olho de sogra

Olho de sogra

Inicialmente não tinha ideia de como escrever um conto que fosse coerente com o tema. Nos dicionários, a palavra “Olho de Sogra” é originário do latim oculus (olho) e de socra (sogra).

Sogra é parente de primeiro grau, por afinidade. Na sociedade atual, a sogra desempenha um papel preponderante, às vezes benéfico, às vezes maléfico, no relacionamento com os parentes conjugais, seja com genros, seja com noras.  

Sei que existem outras expressões com a palavra “olho” e todas elas são utilizadas no cotidiano. “Olho de Pedreiro”, “Olho da Rua”, “Olho do Furacão”, “Olho por Olho/Dente por Dente”, “Olho Gordo”, “Olho da Cara”, “Olho de Peixe” entre outras e uma que aqui não pode ser escrita porque é imprópria para todas as idades.

Em confeitos, é um tipo de guloseima doce preparado com uma parte de ameixa preta seca e outra parte com aglomerado de leite condensado, imitando um olho humano. Antigamente, o nome do doce era “olho de cobra” e não tinha ameixa como complemento.

Existem várias versões sobre a origem da expressão. Uma delas afirma que “como o doce era feito sem ameixa na parte amarela do ovo, levava a entender que não tinha pupila”. E o que tem isso a ver com sogra? É que nos tempos de Brasil colonial, a sogra ficava vigiando a filha com o namorado e não se sabia para onde ela estava olhando, como se ela não tivesse pupila, o que fazia nos lembrarmos do doce. Uma segunda versão conta que uma sogra estava ensinando a fazer um “beijinho de coco” e, de propósito, errou a receita colocando ameixa nesse doce. A nora o decorou com pedaços de ameixa por cima e contou que o docinho tinha sido feito pelo “Olho de minha sogra”.

Até aqui, enrolei, enrolei, enchi linguiça e nada de escrever um conto…  Calma que chego lá…  Eureka… Cheguei… Deixando de lado o “olho” e só falando de sogras, o meu conto é sobre uma, muito especial: Minha primeira sogra. Casei com sua filha única e quem foi o “cupido” foi ela própria. Mas isso seria motivo para outro conto… Nasceu o primeiro herdeiro e, como sempre acontece, após a chegada da maternidade, minha sogra instalou-se no pequeno apartamento em que morávamos eu e sua filha. Aí, começou o drama pois o famoso “chá de erva-doce”  entrou em cena. Meu filho não parava de chorar e, aparentemente, não era de fome porque não se desgrudava dos seios da mãe. Porém, o leite materno realmente era pouco e secou rapidamente. À conselho do pediatra, o leite em pó o substituiu. Pensei que o problema estaria resolvido mas meu primogênito sugava muito pouco a mamadeira e muito rápido o chazinho. Após 10 dias neste contexto, todos exauridos, já não estávamos aguentando mais. E o pior, minha sogra dizendo sempre e com a maior naturalidade: É assim mesmo, nos três primeiros meses, criança tem muita cólica. E  lá ia eu toda hora pra cozinha, à mando dela,  fazer mamadeiras e os “benditos chás”. Uma noite, enquanto preparava o menu do recém-nato, pensei que não era possível tanto sofrimento, que alguma coisa estava errada. Ao colocar o leite preparado na mamadeira, notei que o seu bico estava muito fechado. Não pensei duas vezes. Peguei uma gilete nova e abri um pouco mais o seu bico. Matei a charada. O choro do pequerrucho era de fome, pois ao acabar com a mamadeira em poucos minutos, dormiu quase 24 horas. Ele só não. Eu, a mãe, e a sogra também. Infelizmente ela já faleceu. Gostava muito de mim, talvez mais do que a filha. Lembro-me dela com muito carinho, pois quando olhava para o seu semblante imaginava uma travessa de docinhos embrulhados e, bem no meio deles, um “Olho de sogra”.