Entrei no McDonald’s e procurei a garota que tinha marcado comigo pelo Tinder. Achei ela e pedimos o lanche. Vi que o salão estava um pouco cheio. Sabia que isso seria problema. Levamos a bandejinha pra mesa e percebi que o volume da conversa era alto. Não demorou pra eu soltar um:
– Puta que pariu! Cala a boca!
O salão inteiro olhava pra gente. Olhei em volta e escolhi alguém bem perto pra mostrar meu laudo.
– Tourette? O que é isso, garoto?
– É doença, moça. Tenho laudo do médico e tudo.
Acho que a moça não entendeu bem. A gente não tem filtro. Grita, do nada. Eu já tô acostumado. Pior é pra quem tá do meu lado. Olhei meio sem graça já pra garota do Tinder e ela tentou disfarçar. Falou do lanche e puxou assunto. Meio sem confiança, tentei engrenar no assunto que começamos pelo Tinder. Tinha falado pra ela da minha condição, que não conseguia me segurar. Que com a menor pressão eu podia soltar palavras aleatórias aos gritos. Tentei mesmo engrenar outro assunto, mas era só bola na trave. A menina terminou o lanche, se despediu e fiquei lá, desolado com a minha batatinha. Resolvi pegar o celular pra afogar no último gole de Coca as mágoas de mais uma derrota. Logo o celular vibrou. Tinha dado match no Tinder. É quando alguém em quem você marcou interesse marcou você de volta. Puxei conversa. Um minuto depois, o papo mudou de tom.
– Eu vi o que aquela menina fez com você. Achei maldade.
Comecei a olhar pros lados. Ela devia estar por ali, assistindo ao meu encontro furado. Tomei um susto, porque ela apareceu do nada e sentou na minha frente.
– Já teve um match tão rápido assim?
Ri pra caramba. De nervoso. E o papo engrenou. Fui me acalmando. Rapidinho esqueci do outro encontro e parecia que a gente se conhecia há um tempão. Em quinze minutos ela sabia o meu signo e meu filme preferido. Eu já devia estar com cara de bobo por toda aquela situação, como minha tristeza tinha virado alegria em poucos minutos. Que pessoa legal. Só que, do nada, duas crianças correndo, uma escorrega e bate com a cabeça na cadeira. Criança chorando, todos se levantam e, sem querer, eu solto bem alto:
– Essa criança não tem mãe não?
Sai sem querer. Mal olhei pra ela sem graça e ela grita:
– Essa criança não tem mãe não?
Rimos muito. Cara, ela entendeu tudo. Se incluiu na brincadeira antes que eu me sentisse mal. Nem deu tempo. A criança já estava bem, mas eu só tinha olhos pra ela. Chamei ela pra sair dali. Saímos em direção a porta. Naquela hesitação em pra qual lado da rua ir, ela me deu um beijo. Borboletas no estômago e soltei um:
– Puta que pariu, que foda!
Nem deu tempo e ela já gritou:
– Que tesão da porra!
Ela chegou bem no meu ouvido e sussurrou:
– Eu tenho Tourette também.
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