Há muito tempo não chovia naquela localidade e o calor insuportável era uma tortura na hora de dormir. Mas apesar de tudo isso, o silêncio era interrompido apenas pelo zumbido insistente de um pernilongo que parecia ter perdido o juízo. Ele era totalmente diferente dos outros. Enquanto os demais se contentavam em sugar um pouco de sangue e seguir em frente, este pernilongo tinha um objetivo diferente: ele queria morrer.
Não se sabe ao certo o que levou o pequeno inseto a tomar tal decisão. Os amigos comentavam que talvez o motivo fosse uma desilusão amorosa; o cansaço de uma vida inteira sendo espantado; talvez o desespero de nunca conseguir sugar sangue suficiente para se saciar. Ou, quem sabe, ele simplesmente enlouqueceu após o terror de viver tantas noites ouvindo as pessoas reclamarem de sua existência.
O pernilongo começou sua jornada suicida no quarto de uma casa, onde uma família dormia profundamente. Ele voava em círculos cada vez mais apertados em torno da única lâmpada acesa, como se estivesse hipnotizado pela luz. De repente, ele mergulhou em direção à lâmpada, batendo com força no bulbo quente. O impacto foi forte, mas não o suficiente para matá-lo. Ele caiu no chão, atordoado, mas logo se levantou e tentou novamente.
Desta vez, com a lâmpada da casa apagada, ele voou em direção a uma vela acesa na mesa de cabeceira. A chama dançava convidativamente, e o pernilongo não resistiu. Ele mergulhou direto no fogo, e por um breve momento, seu corpo minúsculo brilhou como uma estrela cadente antes de se desintegrar em cinzas.
Mas a história não termina aí. Na manhã seguinte, a família acordou e encontrou a vela apagada, com um pequeno ponto escuro no pavio. Eles não deram muita importância mas, à noite, quando a vela foi acesa novamente, algo estranho aconteceu. A chama parecia um minúsculo vulto sinistro dançando freneticamente pelo quarto, seguido de um zumbido fraco, quase imperceptível.
Era como se o espírito do pernilongo suicida ainda estivesse lá, preso entre o mundo dos vivos e o dos mortos, condenado a repetir sua última ação para sempre. E assim, todas as noites que a vela era acesa, a cena se repetia e o zumbido ecoava, lembrando a todos que até mesmo os menores seres podem ter histórias sombrias de terror e tragédia.
Não custou muito tempo para ser decretado: Naquela casa não se acendia mais vela Quem sabe essa decisão fez o pobre pernilongo ter finalmente o seu merecido descanso.
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