A família se reuniu no Natal e resolveu fazer uma ceia única. Eram tantas as crianças que alguém sugeriu contratar um Papai Noel. Para dar um tom mais teatral à coisa, combinou-se com o vizinho que o ator entraria pela sua casa. Colocamos uma aparelhagem de som no terraço, alguém conseguiu sons de sinos, como o trenó do bom velhinho chegando e a criançada choraria de alegria, vendo o velhinho acenando do terraço da casa.
Bem, foi quase assim. O tal do Papai Noel chegou muito cedo na casa do vizinho e, abafado pela roupa apertada, pediu um copo d’água. Alguém ofereceu uma cerveja e o sujeito aceitou. Depois foi vinho. Mais cerveja. Uísque. Cerveja de novo. Vinho. Outra vez cerveja…
Depois de quatro horas enchendo o pote para passar o tempo, o Papai Noel mal se aguentava de pé. Os vizinhos, donos da casa estavam na festa com suas crianças e não viram o quanto o Papai Noel era alcoólatra. Perto da meia-noite, foram precisos seis homens fortes para ajudar o Papai Noel a subir na laje da casa do vizinho e passar para o terraço da casa em festa. A preocupação geral dos organizadores da festa era a de que o Bom Velhinho não despencasse do teto da casa diretamente sobre as crianças. Alguém amarrou uma corda em sua cintura para segurá-lo na descida e arranjaram uma escada para que descesse com maior segurança. O som começou a tocar na casa e as crianças ficaram olhando o terraço. Em meio aos fogos de artifício e jingles de Natal, desce o Papai Noel pela escada, trôpego e desalinhado.
– Ho-ho-ho-HIC-ho!
Algumas das crianças ficaram eufóricas e começaram a saltitar. Papai Noel, ajudado pelos homens fortes agora da festa, colocou os pés em terra firme e deu aquela indefectível balançada que só os ébrios conseguem. Ergueu a mão em tom de saudação e exclamou:
– Feliz… HIC! Natal a todos… hic!
Meu sobrinho de seis anos puxou a manga da minha camisa e abaixei até colar meu ouvido em sua boca:
– Pô, tio! O Papai Noel tá bêbado!
– Shhh – fiz com um dedo sobre os lábios – ele só está cansado…
Meu sobrinho ergueu uma sobrancelha, deu de ombros e virou-se. De repente, começou a pular e gritar:
– Papai Noel é cachaceiro… Papai Noel tá bêbado…
Se o Bom Velhinho tivesse apenas ido embora rapidamente, até que a criançada não teria percebido. Mas, como todo bom bêbado, Papai Noel caiu por cima das pessoas, riu, chorou, discursou, vomitou e, por fim, foi retirado às pressas da casa, porque cismou de colocar a esposa de um convidado no colo. Nunca mais a criançada daquela vizinhança acreditou em Papai Noel.
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