Ciça era uma menina sozinha e bastante esperta. Morava com sua avó, mas vovó não gostava muito que ela brincasse com as outras crianças. A garotinha era muito curiosa e ficava observando as cores, as flores, os bichinhos do jardim. Às vezes não sabia escolher o que queria, não conseguia saber se era melhor isto ou aquilo.
Adorava ganhar livros de presente. Um dia começou a notar que, junto às figuras das páginas que folheava, havia desenhos menores e diferentes. Descobriu que aquelas pequenas formas desenhadas se chamavam letras.
Conforme ia conhecendo aquelas novas amigas, Ciça descobria um mundo imenso. Com sua imaginação, podia viajar em cada história que lia. Não demorou para que ela mesma começasse a criar as próprias histórias.
Certo dia, uma palavra nova chamou sua atenção: I-N-S-T-A-N-T-E. A essa época ela já tinha um outro amigo novo: o dicionário. Era ele quem explicava o significado das palavras que aquela garota, de lindos olhos claros, ainda não conseguia compreender sozinha. Encontrou o seguinte resultado: “Instante – substantivo masculino. Espaço de tempo indeterminado, geralmente breve; momento, hora, ocasião, minuto.”
Percebeu então que, tudo que fazia em sua vida, era feito a cada instante diferente. Se estudava, começava a estudar em um instante e quando acabava o instante já não era o mesmo. Se brincava, os instantes corriam uns após os outros. Se cantava… ora, ela adorava cantarolar e concluiu que isso só era possível por uma única razão:
– Eu canto porque o instante existe!
As pessoas, em geral, não entendiam muito aquela menina, em pleno desenvolvimento. Definitivamente, ela não era daquelas crianças que saía mostrando os dentes, gargalhando por aí. Também não era de viver chorando pelos cantos. Não conseguiam dizer se era alegre ou triste.
O tempo passou e Ciça se tornou uma jovem professora. Muito dedicada a ensinar, continuava a escrever suas histórias, as quais passou a usar em suas aulas, para a sorte de seus jovens aprendizes. Logo começou a publicar lindos poemas. Muita gente continuou sem entender o que dizia. Somente aqueles que ousaram abraçar o instante e decidiram mergulhar no universo de Ciça, puderam enfim perceber que, na verdade, ela não era alegre, nem triste. Ela era Cecília Meireles, a poeta:
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.”
Que lindo esse instante de leitura!
Viajei no tempo agora Rosiris, lá para a época da Revista Ponto de Vista, mais de 20 anos atrás. Muito obrigado pela leitura. Grande abraço.
Parabéns, Alexandre!
Belo conto!
E “motivo” é um dos mais lindos poemas da língua portuguesa.
Abraço
Albir, que bom que você gostou. O poema Motivo é lindo mesmo. Um grande abraço.
BACANA !
Eu sou fã de Cecília Meirelles ( l duplo conforme os documentos ), tanto que ela faz parte de meu primeiro livro intitulado E T E R N ! S ! Adorei a criatividade do autor ! Parabéns !
Rosana Machado,
Poetisa.
Valeu Rosana, para nós que amamos poesia é mesmo impossível não ser fã dessa grande poeta brasileira. Fico feliz que tenha apreciado essa singela homenagem. Grande abraço
Bela homenagem à grande poeta.
Muito obrigado, amigo querido.
Grande abraço.
Parabéns, Bollmann. É a sua cara.
Valeu meu amigo. Um grande abraço pra ti!
Oi, Alexandre!
Tocante e sublime!
Onde estiver, Cecília Meireles se sentiu, verdadeiramente, homenageada.
Ciça… Que sensibilidade, de capturar a menina Cecília nas divagações infantis.
Senti-me dentro do texto, e me aventurei nas palavras cheias de “instantes” que a garotinha Ciça capturou no coração.
Obrigada por nos brindar com um belíssimo conto!