Banana Man

O inescrutável Banana Man

Pensou em já ter vivenciado tudo aquilo antes, algo como num sonho recorrente; um déjà Vu! Mas, como não podia perder tempo com reflexões existenciais, seguiu os seus instintos viscerais engendrando-se furtivamente de uma sacada pra outra com a finalidade de surpreender a galera, já que teria suposto não haver outro local onde eles pudessem ter se enfiado. “Os pegaria de surpresa… No flagra!” – Motivou-se, todo convencido. Estava estimulado pelos excessos de bananas, serotonina, endorfina e dopamina. Houve um esforço demasiado naquela empreitada, pois já não contava com a destreza ingênua e louca dos tempos da facul, quando escalar lhe sairia mais como uma brincadeirinha de pular-corda. Agora, o seu corpanzil ganhara muito em volume e silhueta, com aquela vestimenta em tons metálicos e cintilantes da fantasia elástica, apertada e desconfortável, ainda mais com aquelas alças lhe espremendo os bagos (assim confabulara sobre a sua insustentável leveza interior). 

Vencido ou convencido pelos dilemas dualísticos, quase despencou varanda abaixo; por alguns segundos se imaginou todo estatelado lá embaixo, naquele pátio úmido e sujo que parecia atraí-lo. “Devia ser bem uns seis metros em queda livre.” Galgou uns centímetros de parede, de uma forma um tanto letárgica e muito mais se galgava espalhafatosamente, conseguindo, enfim, o seu intento: firmar-se. Aprumou-se. Mas, se pretendera surpreender alguém, na verdade fora ele o surpreendido por uma multidão festiva. Houve qualquer ato sensitivo do DJ em lhe mandar aquelas letras, ao menos pressentiu que fosse com ele. Seria algo de hip-hop misturado com música eletrônica. Nem mesmo o seu atual e avantajado corpo fora páreo para a sanha da turba dançante dos marombados seminus; ele se descambou lá pra pros lados deles e de tal jeito que se vira levitando acima das cabeças dançantes, sendo transportado de mãos em mãos. Cataram-no com tremenda facilidade; inflaram-no e o sacudiram ao deus dará… Logo se vira envolto naquela coisa amarelada, de látex… Foi assim que percebeu que a tal fantasia se transformara numa espécie de boneco inflável caricato de Banana Man – numa grande e balofa banana; logo seria arremessado de ombro em ombros e cabeças pra lá e pra cá, em volteios – ele e outros – iam e vinham e em rodopios ao som cada vez mais abafado: ♪Tuntuntun-tufftuff♪. E fora sendo jogado de um lado pra o outro ricocheteando com outros balões igualmente soltos – um que era sobre o Chaplin, outro, Guevara… Já estava se acostumando ao seu novo estágio, quando sentiu uma pontada no traseiro e algo lhe vazar por trás feito pum. Alguém lhe furara. Apesar do alto som ambiente, chegou a ouvir o barulhinho do ar saindo e, sem ter como impedir o fluxo de ar, fora murchando feito balão doido partindo descontrolado em direção à parede na outra extremidade do salão, chegando lá já absolutamente esvaziado, fora deslizando pelo imenso painel luminoso, escorrendo feito um pingo de chuva pela superfície da imagem icônica da famosa tela de Magritte, como se fizesse parte do original, numa decrépita e impotente figura em queda…

Nem bem havia conseguido se despir da roupagem embananada e murcha, fora empurrado pela delirante parede humana… Em meio ao rodopio forçoso, pode, de esguelha e num relampejo, observar o grupo sumindo ao longe, na direção contrária. De repente, despejado no outro lado do salão, levaria só um tempinho para se recompor dos efeitos da zonzeira, erguendo-se bisonhamente nas pernas, apoiando-se nos próprios joelhos. Foi se levantando como a recobrar a lógica enquanto o lusco-fusco de luzes piscava ao ritmo do som ambiente. Com a sua visão se clareando, logo observou no telão a sua própria imagem psicodélica projetada: a sua face alucinada com a bocarra devorando uma imensa banana com casca e tudo. De repente sentiu mãos lhe puxarem… Eram os festeiros que lhe agarraram e o enfiavam numa roupa de plástico, o transmutando num homem-banana… 

Confuso e estonteado, ainda pode percebê-los se esgueirando pela escadaria. Pôs-se a segui-los até uma varanda, guiando-se pelo som de suas risadas ecoando no outro cômodo. Postou-se em tocaia para surpreendê-los e, por alguns segundos, pensou em já ter vivenciado tudo aquilo antes, algo como num sonho recorrente; um déjà Vu