A ciência diz que o corpo humano é basicamente constituído por água. Algo entre 70 e 75%. Talvez seja por isso que em minhas habituais ressacas eu venha sentindo tão vivamente os efeitos da desidratação. No fundo, entendo que uma longa noite de misturas etílicas tenha consequências e, conscientemente, admito não tomar medicamentos que possam atenuar a dor física como punição pelas más escolhas anteriores. Talvez essa também seja uma má escolha. Não importa. Sou eu quem decide como devo proceder diante desses episódios lastimáveis. Adormeço aborrecido em meus pensamentos e, quando acordo, sinto uma estranheza dentro de mim por já ser noite de novo. A angústia evidente suplicou por algo mais. Decido-me pelo mar, mergulho meus pés primeiro na areia fina e fofa indo, passo a passo, até o mar revolto. Sinto o vento quente da noite soprando em minha nuca, as ondas quebrarem aos meus pés e ouço uma sirene soar alto como um aviso tentando impedir mais uma das minhas escolhas. Ignoro. Mergulho consciente de que não posso voltar atrás. O mar escuro, escuso, banhado pela lua me torna parte dele. Quero ir cada vez mais fundo, deixar na superfície toda a imundície que carrego em mim.
– Não tem medo de sufocar? – ouço a irritante voz da lógica sibilar.
Instantaneamente sinto os pulmões se afogarem, queimarem. Eu nado, nada. Sinto as correntes presas aos meus pés, puxando-me. As ondas quebrando em mim, como se tivesse transferido minha ressaca para o mar e, agora, este mesmo mar me flagelava por ato tão vil.
Desfaleço para acordar na cerâmica gelada da sala de estar. Sinto o gosto azedo da bebida e de algo mais. Tenho os pés sujos de areia e uma dúvida para a vida toda.
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