Já passava das sete horas da manhã quando Romeu deixou o salão nobre. O baile foi um dos melhores daquele ano. Ainda podia sentir o gosto bom dos canapés e do Gin Daisy servidos durante a festa, mas seu estômago já roncava. Jogou o paletó de linho nos ombros e seguiu apressado até o ponto de carros de aluguel. Não havia nenhum disponível. Decidiu caminhar até o Leme pra tomar um café. A média com pão da padaria Marina era o melhor desjejum após muitas doses de gin. Depois do café, leu umas notícias no jornal e foi andar pela orla. Apesar de ter nascido bem longe do calçadão de pedras portuguesas e ainda morar bem longe, ali, era naquele lugar de gente fina que Romeu sentia-se em casa.
Mas sua vida era bem diferente da que ele aparentava nos salões de festas, fazendo-se passar por um bem sucedido representante de
tecidos importados da América do Norte. Ele vivia mesmo de biscates. Fazia todo tipo de serviço honesto que lhe pagasse o suficiente pra
levar o ganha pão pra casa e comprar seus artigos de luxo: ternos de linho, camisas de cambraia, gravatas, abotoaduras e sapatos bicolor.
Todos os meses, chegava em casa com um novo embrulho debaixo do braço. Tomava a benção de sua mãe e mostrava-lhe tudo com a
maior satisfação. Dona Raimunda já tinha desistido de convencer o filho a deixar essa vida de ilusão e sempre esboçava alegria ao vê-lo tão elegante.
O nome era verdadeiro de batismo e o desejo de viver como um galã no bairro daquela gente fina foi alimentado desde a infância, quando
acompanhava a mãe pra entregar as roupas que lavava pras madames. Romeu cresceu vendo casas luxuosas, pessoas bem vestidas e
perfumadas, homens ricos e bem sucedidos…só queria ser um deles, como um deles.
Acompanhava as colunas de notícias do Diário para saber quando e onde seria a próxima festa. Não importava se era aniversário, casamento,
batizado ou falecimento. Arrumava-se todo, pegava o trem, depois o bonde até chegar à Urca. Era ali que sempre pegava um carro de aluguel
para chegar às festas. Além de biscateiro, Romeu era muito galanteador e safo. No jornal O Diário, estudava umas frases em inglês e imitava
o sotaque dos gringos que frequentavam a praia. E assim, vivia feliz a sua ilusão de representante de tecidos da América do Norte. Com toda aquela elegância e sotaque perfeito de norte-americano, quem poderia imaginar que o galã da Urca não passava de um baita de um penetra?
Legal, Patrícia. Lindo conto. Também conheço muitos ‘Romeus’ que se imaginam galãs, rsrs