Noite do dia quinze de agosto de 2023… Eu vinha como uma certeza na cachola: “Aquele deveria de ser um dia… melhor, uma noite muito boa mesmo!” – assim eu seguia ruminando com os meus botões… 19h15?!… “Caramba! Quinze minutinhos atrasado…” Dou uma corridinha e o meu sapato direito resolve me sabotar e, parecendo adquirir vida própria, salta pra fora do pé caindo a um metro e pouco… “Putz!. Aquilo logo trouxe uma memória… de verdade foram duas: uma deveria ser aquela pra resenha esportiva donde perdi a velha e toda ferrada chuteira… e foi bem na hora do chute; chutei assim mesmo com o meião no pé, foi de trivela… foi pro alto, pegou efeito e logo descaiu indo rolar bem na forquilha esquerda (se pudesse mostrar em câmera lenta, daria pra ver o goleiro só olhando e torcendo contra, com aquela careta de bobo… não deu pra ele, foi lá “onde a coruja dorme”, um golaço!!! Mas, como não se trata de reunião de resenha pós peladinha society…, é sobre o famoso encontro literário do “coletivo ALEATÓRIOS”, prevalece a historinha da Cinderela ao perder a sapatinho de cristal! Bem, não sei ao certo se era do pé direito, mas também nem procurei saber… fosse o que fosse cabe a metáfora; bem sei que ela não voltou pra calçá-lo de volta – ele ficou lá pro príncipe pegar. No meu caso, a retórica é outra, voltei e o calcei, mas tive de fazê-lo em pé, saltando com a perna esquerda… é óbvio que me lembrei do Saci Pererê – afinal, ainda estou estimulado pelo contos da carochinha…” Atrasado, adentro o átrio do anfiteatro e vejo ninguém, o ambiente está num lusco-fusco com um estranho facho de luz vindo de um buraco… Instalaram uma espécie de túnel quadrado bem no meio do palco. Sigo reticente em direção às bordas e… de repente me sinto agarrado por alguém e caímos buraco adentro, eu e alguém! Lá dentro, passado o susto e a adrenalina ainda em ebulição, o sujeito aos risos tenta me acalmar… o estranho à luz me parece ainda mais estranho todo vestido de roupa camuflada, um capuz a lhe cobrir a cabeça e uma máscara representando a dogmática faceta teatral: meio cômica, meio trágica e… aos maneios e trejeitos corporais canastrões – próprios de atores performáticos, segue tentando me convencer de algo… “Identifico-lhe alguns padrões bem característicos – seria, por acaso, o J. Marujo fingindo ser o penetra?!” Percebo que outras pessoas estão estáticas, rentes à parede oposta como se nem ali estivessem – reconheço-os, eram os demais autores aleatórios… estão lá… uns doze e… nada falam, apenas nos observam, parece que me aguardavam pra dar inicio a reunião sobre o tema “O PENETRA”, seria aquele o próprio?! (questionamento retoricamente intrínseco!) nada digo, somente aceno a cabeça positivamente, mas ainda sem entender nadica de nada.
Ó my God! – Ele então começa: Vocês estão no “Fundo do Poço” É um antigo projeto de minha autoria, coisa autossustentável, politicamente correto e totalmente seguro; e eu sou o coach metafísico “do Fundo do Poço” – Ó my God… Ó-my-God. Podem tatear as paredes, todas de material reciclável e dos tapumes aos revestimentos acolchoados incluindo este grande colchão bolha; jamais os colocaria em perigo durante a queda; é sobre a famosa tese nietzschiana do abismo; há também aquela sobre o enigma da esfinge; há o “mito do labirinto”; passando pelo estudo filosófico metafórico da “Escada de Penrose”… Observem naquela vertente mais obscura daquele ângulo… Eí-lo! Apresento-lhes o Nian… – Ó my God!
A principio mais parecia com uma grande e fedorenta bola peluda com um sinal interrogativo preso em cima. O pseudo coach fala em falsetes, e o tal jargão repetitivo do “Ó my God, imitando vozes e trejeitos de outrem, ora de apresentadores midiáticos famosos, vivos ou mortos… ora de personagens caricatos, Frajola, Patolino, Mickey Mouse… Ao seu comando o bólido peludo se move e fica ereto, são quase três metros de altura… Ele, o “Nian de tal”… Desconexo e atabalhoado demonstra um temor procurando se esconder em si mesmo e aquela coisona agarrada às costas, que mais nos parece algo que dá vontade de puxar, arrancar à força… mas o mestre intervém com aquele tal refrão chato, alegando se tratar do famoso “Elo Perdido”. (ficamos todos abobalhados com aquela revelação – a representação é pertinente!) Ele, então, faz o famoso “dannn” sorvete na testa! E, do nada, dá início ao seu stand up metafísico e macambúzio: Ó… Enfim, fora criada a humanidade! Criada? Ou… teria sido inventada? Bem… aí está, não há dúvidas! Provavelmente deve ter se infiltrado naqueles velhos tempos. É de sua natureza essa coisa de… se enfiar onde nem é cogitado. Sorrateiro vai se chegando até que… Quando começou a aparecer lá nos primórdios era, por assim dizer, uma espécie intrusa. Parecia que não se encaixava em nada e ali se enfiara pra testemunhar as maravilhas do universo… depois, é que foram sendo emanados outros segredos, com um tempo contado outro a se contar. O fato é que este ser, autonomeado humanoide, associara a sua pragmática genética a um elo perdido, daí pra frente deu pra fazer e desfazer aquelas maravilhosas coisas as quais deveria somente tecer boas opiniões; ao seu bel prazer de penetra na festa alheia, foi se chegando, se empoderando, tomando tudo e, se preciso, matando e destruindo. Não só fora associado ao tal “elo perdido¨ como, também, aos deuses; aos ETs… etc; vieram as guerras até o século vinte, duas grandes guerras transformaram absurdamente a humanidade e com a chegada dos computadores, da nano tecnologia, da robótica, inteligências artificiais, etc… as grandes corporações foram gradativamente, por assim dizer, tomando o poder com fabulosos programas midiáticos e de tal maneira multifacetadas, que nos fazem crer sermos dotados de liberdades cognitivas especiais e exclusivas… e aqui estamos, como verdadeiros robôs. Assim, robotizados, seguimos acreditando numa ideologia coletiva, criando e recriando histórias supostamente e aleatoriamente escolhidas… e essa coisa de robotização em massa já vem acontecendo desde os primórdios. Crendo sermos gestores de nossas próprias vãs existências, continuamos esse processo de robotização ideológica quando nos julgamos autênticos e libertários. Ó my God! Até quando!? Hoje é sobre o penetra… mas… para o próximo encontro ou, quiçá, pro livro, sugiro um tema pra votação “SPC/SERASA”… E, para que possamos dar início ao próximo passo: “A desrobotização” devemos concluir, aqui e agora, o processo de robotização… é desconstruir para reconstruir!
E foi nesse momento que o Nian de Tal, com os seus quase três metros, conseguira escalar facilmente aquelas paredes sobrepostas, escapando e sumindo mundo afora a se entender como gente… Mas, mesmo que sem querer, já saíra fazendo merda, pois, ao galgar espalhafatosamente o topo do “fundo do poço”, derrubara uma base do tapume e todo o cenário viera abaixo num efeito dominó e atingindo em cheio a cabeça do coach, que somente estrebuchara ali mesmo, fazendo das suas firulas performáticas, em plena agonia mortal estampada na sua carismática faceta tragicômica – “Ó… my… Go…”.
Deixe uma resposta