No último domingo antes das eleições municipais, a cidade estava intransitável, com carros de som, carreatas de diversos candidatos e calor intenso. Vitória, de repouso em casa, bordava roupinhas de bebê, quando sentiu uma forte dor na nuca e sensação de ter urinado no sofá. A jovem grávida entrou em pânico, chamando o esposo, que preparava o café da manhã:
– Amor, estou perdendo nosso bebê.
Desnorteado, Edu começou a ligar para amigos e familiares pedindo socorro, até receber a chamada do Dr. Pedro, que além de médico obstetra, chefe geral do hospital e especialista UTI Neonatal, era muito bem relacionado com autoridades de diversos poderes e participava em uma das carreatas, bastando um simples telefonema para que caminhos fossem abertos e a ambulância (UTI Móvel) pudesse socorrê-los.
Com crise de eclampsia, Vitória foi medicada ali mesmo, sendo submetida a uma cesariana de urgência, dando à luz a menina que recebeu o nome de Sol, imediatamente preparada e levada para a UTI Neonatal
Os dias se passaram, mamãe de alta, diariamente atravessava a cidade para visitar Sol. Alguns pontos da cirurgia se romperam e inflamaram. Mesmo assim, das 14h às 22h , estava firme, sentada ao lado da incubadora, onde passava a tarde bebendo água e tirando leite das mamas para oferecer em quantidades muito pequenas (conta-gotas), muitíssimo importante para a boa recuperação e imunidade da sua filhinha. Ao fim de seis meses, com órgãos completamente formados e peso ideal, Dr. Pedro fez os últimos exames, dando alta à paciente. A enfermeira Dulce, muito feliz e emocionada, tira os acessos necessários para os medicamentos colocando Sol nos braços de sua mãezinha.
Vitória não contém as lágrimas quando pega sua filha pela primeira vez, que instintivamente suga seu seio com vontade e, como milagre, o outro seio começa a jorrar leite. Durante todo o tempo, as enfermeiras a ajudaram, os ordenhando para o leite não secar. Foi um momento de muita emoção para todos os presentes.
Enfim em casa, com Sol ainda não vacinada, imunidade baixa, não puderam receber visitas. Comemoraram o Natal entre eles em uma ceia simples. Repletos de amor e gratidão, iniciaram uma oração, um coro de anjos ecoou por toda a casa, Mel gargalhava como se entendesse o que estava acontecendo (e certamente estava). Era o milagre do Natal, milagre da vida, do amor e esperança, ensinando o doce e difícil sabor da “MATERNIDADE”…
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