Hoje eu tenho conhecimento que a capoeira é uma manifestação cultural, que nasceu como uma forma de resistência, que o povo africano, escravizado aqui no Brasil durante séculos, utilizou para se comunicar e resistir às condições de vida imposta pelo branco europeu. Mas lembro muito bem que ao chegar no Rio, ainda criança, eu nunca tinha ouvido falar sobre essa manifestação. E descobri isso da pior maneira possível.
Eu sempre tímido e tranquilo nos meus dez anos de idade, acostumado a falar pouco e não andar enturmado com os outros meninos do bairro, ficava sempre distante de confusões na rua. Ao contrário do meu irmão mais velho que era expansivo, sedutor nas palavras, um bon-vivant com as meninas e cercado de amigos. Predicados não lhes faltavam. Mas apesar de tudo isso, era um pavio curto quando era contrariado. Não levava desaforo para casa, estava sempre envolvido em brigas de rua ou nos bailes do clube local. Nunca precisava dos amigos para resolver uma contenda. Resolvia tudo sozinho, seja na conversa franca ou na violência mesmo.
Mas o seu excesso de confiança fez com que ele cometesse um dos seus maiores erros. Numa festa de rua, se engraçou com a namorada do Tião Pelé, um hábil capoeirista morador de um bairro próximo. Como também não levava desafora para casa, enfurecido, exigiu do meu irmão explicações sobre o ocorrido. Uma roda se fez ao redor dos dois. Eu, que por acaso estava ali por perto, pedi ao meu irmão que se desculpasse, mas isso fez com que ele ficasse mais irritado e me chamasse de covarde. Partiu todo confiante para encarar o Tião Pelé. Foi naquele dia e momento que eu descobri o que era capoeira. O Tião bailava em frente do meu irmão com movimentos ágeis entre golpes de rasteiras, chutes e acrobacias aéreas… fez do coitado um boneco de pano que mais parecia um judas em sábado de aleluia de tanto apanhar.
Por muitos anos o meu irmão continuou me acusando de covarde por não ter entrado na briga para lhe ajudar. Mas ajudar como? Eu nunca tinha visto algo assim na minha vida! De nada adiantava eu dizer que fiquei hipnotizado, estático ao ver todo aquele bailado de golpes na minha frente. Até hoje depois de muitos anos ainda tenho dúvida se ele me perdoou.
Agora. Deu vontade de aprender capoeira!! Amei!
Obrigado,minha querida.🥰
Amigo, parece uma crônica de tão convicente que foi este conto. Muito bom!!!