Um dia, passeando com a minha mãe, entramos numa loja de presentes pertinho da minha casa. Vi lá um carrinho do meu herói preferido: o Homem-Aranha. Era vermelho, azul e preto e tinha uma aranha desenhada na frente. Eu tinha o boneco, mas nunca tinha visto o carrinho do Homem-Aranha. Uau!
– Mãe, compra pra mim, compra, compra?
– Calma, filho. Moça, quanto é?
– Ah, quarenta reais.
– Filho, não tenho dinheiro aqui. Mais tarde seu pai vem e compra pra você.
Mentira! Meu pai nunca comprou um presente pra mim. Minha mãe tá dando desculpa porque ela não quer comprar. Fui pra casa muito, muito triste. Como assim minha mãe não comprou o carrinho do Homem-Aranha, que eu nunca tinha visto antes? E se outra criança passar na loja e comprar?
Chegamos em casa e fui brincar com o meu boneco do Homem-Aranha. Estava chateado. Quem compra as coisas lá em casa é minha mãe. Faz as compras no mercado, na feira, paga a escola… Vai ver ela só não tinha dinheiro e ficou com vergonha de falar na frente da moça. Aconteceu uma vez. Teve um passeio na escola e ela disse que não tinha dinheiro, mas que eu ia no próximo passeio. E eu fui mesmo.
Ela dizia que me dava presentes porque eu era bom aluno. Estudava, tirava boas notas, obedecia (quase sempre). Mas meu pai não ligava pra mim. Ele só queria saber de trabalhar. Via ele mais no fim de semana, quando ele fazia o almoço e ia dormir de tarde. A gente até brincava, mas meu pai não tinha muito tempo pra mim.
Chegou a noite e nada do carrinho. Até que eu escuto a voz do meu pai abrindo a porta. Já era tarde e ele chegou do trabalho com uma caixa. Eu não podia acreditar. Voei em cima dele e nós dois abrimos aquela caixa. Era sim o carrinho do Homem-Aranha, igualzinho o que eu tinha pedido:
– Pai, você comprou pra mim!?
– Claro, filho. E pra quem mais eu compraria?
– Mas você nunca me deu um presente…
– Cheguei na loja e disse: “Moça, meu filho passou hoje aqui cedo atrás de um carrinho do Homem-Aranha?” Ela disse: “Um menino lourinho, lindo, dos olhos azuis?”, “Esse mesmo! Ele tava de olho nesse carrinho aqui.”
Meu pai sentou comigo e me explicou que ele saía muito cedo de casa, enquanto eu ainda tava dormindo e chegava tarde. Que fazia isso pra nos dar o melhor que ele podia. Que muitas das coisas que minha mãe comprava pra mim era ele que tinha dado o dinheiro. Que ele me amava muito e não ia deixar de me dar um presente se ele pudesse. Que eu merecia porque era bom aluno. Enchi meu pai de beijos. Saber que ele me amava era melhor do que qualquer carrinho.
No dia seguinte, quando meu pai chegou do trabalho, pedi pra ele contar de novo a história de quando ele chegou na loja procurando pelo carrinho e que a moça me conhecia. Cada dia que ele contava a história tinha mais um detalhe. Sempre que ele mudava a história eu consertava, porque sabia a história toda de cor. E toda a noite, meu pai repetia a mesma história do dia que eu descobri que ele me amava e que pensava todo dia em me dar o melhor que ele podia.
Adorei. Sensível, emocionante. Parabéns!
Obrigado, Bollmann.
Show!
Obrigado.
Carlos, que lindo!
Acho que muitos de nós pensa que nossos pais (ou só o pai ou só a mãe) não nos ama.
Porque, quando somos crianças, nossa realidade é do imediatismo – queremos o brinquedo, temos que ter o brinquedo!
Conforme vamos crescendo, passamos a notar o “outro lado” daquela “frieza” dos pais.
Muito bom! Voltei a minha própria infância…
Carlos, que lindo!
Acho que muitos de nós pensamos, que nossos pais (ou só o pai ou só a mãe) não nos ama.
Porque, quando somos crianças, nossa realidade é do imediatismo – queremos o brinquedo, temos que ter o brinquedo!
Conforme vamos crescendo, passamos a notar o “outro lado” daquela “frieza” dos pais.
Muito bom! Voltei a minha própria infância…