Estou eu, tranquilão em casa, quando me liga Maria toda apavorada:
– Josué, a bolsa estourou. Corre pro hospital São Vicente. Leva a bolsa verde com as coisas do bebê.
Que susto. Pego logo a bolsa do Uber e chamo um bebê. Não! Troquei tudo. Pego a bolsa verde do bebê e chamo um Uber. Que demora! Entro correndo no carro e falo pro motorista:
– Toca pro pai que vou ser maternidade hoje!
– Que foi, irmão?
– Tô louco, amigo! Tô louco! Toca pra maternidade que vou ser pai hoje!
O motorista simpatizou com a minha pessoa e dana a falar. Não lembro de nada, só que ele tem três filhos e precisa rodar o dia todo pra levar dinheiro pra mulher. Ou será que ele tinha três mulheres e precisa levar dinheiro pro filho? Sei lá, só sei que esse homem não chega nunca. Como ia dar conta de três mulheres sendo lerdo assim?
Desço na maternidade e vou direto pra recepção. Na fila, na minha frente, tem um cara grandão, todo tatuado, que fala assim com a recepcionista:
– Minha esposa vai ter filho aqui. O nome dela é Maria de Fátima.
Como assim Maria de Fátima? É o nome da minha mulher! Será que eu vou descobrir que ia criar o filho dos outros? Assim que a moça me atende eu digo que tava acompanhando o grandão e vou logo atrás dele. Chego perto e puxo assunto:
– Primeiro filho?
– É sim. E você?
– Também. Maria de Fátima, né?
– É sim. Como você sabe?
– Ouvi na recepção.
Acho que ele tá desconfiado. Tenho que saber mais informações dele antes que a enfermeira chame:
– Vocês se conhecem há muito tempo?
– Há um bom tempo. Mas estamos juntos há dois anos só.
– Moram aqui perto?
– Ela sim. Não moramos juntos.
Desgraçado! Agora que vi que ele não usa aliança. Tá maluco que eu vou criar o filho dele. Mas o grandão vai entrando na minha e solta:
– Cara, já que estamos na mesma situação, vou me abrir contigo… Eu desconfio que esse bebê nem é meu. A gente brigava muito nos últimos meses e…
Perguntei logo:
– Irmão, não me leva a mal, mas acho que a gente tem mais coisa em comum do que você imagina. Qual é o nome do bebê?
Antes que ele pudesse responder, a enfermeira interrompeu dizendo:
– Senhor, sua esposa já está na sala de parto. Pode me acompanhar?
Nessa mesma hora meu telefone toca. Era Maria:
– Josué, onde você tá? O bebê já vai nascer!
– Tô no corredor aqui da Maternidade São Clemente.
– É Maternidade São Vicente, seu idiota! Corre pra cá a-go-ra!
Nunca fui bom com nome de santo. Corri pra saída da maternidade e peguei logo um moto-táxi:
– Motorista, toca pra Maternidade São Nascente que meu filho tá pra Vicente!
Conto divertido e cativante. Parabéns 👏 👏
Muito obrigado, amigo. Você é um Bollmann.
Gostei muito desse texto👏👏👏
Obrigado, Totó.
Muito bom e engraçado. Parabéns
Valeu, Medina.