Sentindo que o clima ficava tenso, Duda tentava controlar a ansiedade pensando que, todos os dias, desde muito nova, tinha se preparado para esse momento. Mas é aquela velha história: quando o momento chega – e por mais que ela duvidasse que um dia isso pudesse acontecer com ela – não tem jeito, é tanta adrenalina, tanta tensão, tanto medo.
Durante um tempo, Duda tentou desviar a atenção de si, passar despercebida,ficar em segundo plano. Inconscientemente, ficava juntos das garotas que eram mais ousadas, que chamavam atenção, que tomavam iniciativa. Achava que assim poderia levar essa vida sem correr muitos riscos. Mas não teve jeito. Renata, que deveria estar ali com ela, de última hora foi por outro caminho e agora Duda tinha alguém em seu encalço. Nada pior do que a sensação de estar no local errado, na hora errada.
Teve que acelerar o passo, embora estivesse cansada. Nessas horas, não importa o quanto tenha sido avisada pelos pais, professores e amigos. Não achava que enfrentaria essa situação tão cedo, tinha só dezessete anos, se considerava uma menina. Na verdade, ainda era. Sempre foi super protegida, mimada mesmo. O pai leva para escola, para o médico, para os passeios com as amigas. A mãe prepara todas as refeições e serve na hora certinha, nem um minuto de atraso, tudo para a sua saúde ficar sempre impecável.
Mas agora nada disso importa, ela está sozinha e tem que correr, não tem ninguém por perto para ajudá-la. Sente que seu coração vai sair pela boca, por um segundo pensa em entregar os pontos, desistir, depois fingir que não aconteceu. Não é possível que, no final, ela leve toda a culpa. Ela não era responsável por estar naquela posição, desamparada, coagida. Sua mãe entenderia, é claro. Seu pai, talvez fique um pouco decepcionado, diga que avisou que isso poderia acontecer, que era pra ela não ter se arriscado daquele jeito, ter ido junto com a Renata…
Enfim, resolveu tentar uma estratégia, estava encurralada, não tinha nada a perder. Seus ouvidos já antecipavam o grito quando fez seu passe, um chute para o gol sem muita esperança, mas que foi certeiro: de placa. E a arquibancada inteira vibrou, goooool ecoava pelo estádio, Duda correu de braços abertos para suas companheiras, fez um coração para a câmera, levantou a camisa estampada com “pai, mãe, amo vocês!”, uma homenagem para aqueles que sempre acreditaram em sua carreira.
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