A minha vida quase inteira esperei para debutar. Agora, enfim, chegou a hora de foder o tempo. Quem disse que só se debuta aos 15?
Eu debutei aos 5, aos 16, aos 21, aos 37. Perdi a conta. Agora, às vésperas de um gostoso 69, de sacanagem e de idade, eu vivo o único
tempo possível, o presente. Sim o presente que Deus e os Deuses me deram ao nascer. Eu aglutinei os pretéritos e os futuros, para
enfim presentear vocês. Só se fode o tempo, fodendo muiiiiiito. Eu e meus amigos organizamos a minha festa de debutante. O tema é
Sodoma e Gomorra. Imaginem! Se não sabem do que se trata, eu não vou explicar. Estou com pouco tempo. Só disponho de uma
lauda. É preciso gozar rapidinho. Há muita purpurina, borboletas lilases e muitas bolas coloridas. Eu sempre quis ser colorida. Eu não
segui o meu talento para putana. Quase me fodi com isso. Eu só adiei o script. Quase fui puta, quase cafetina, dona de cabaré. Deus
me perdoe. Fui quase tudo de bom nessa vida. Não fui empresária do sexo, mas também não sucumbi às facilidades de um casamento
com um estrangeiro ruim de cama e bom de bolso. Tô fora! Todos elogiavam a minha cara de quenguice e ar de freira arrependida.
Desvirginei alguns fodões, com listas imensas de supostas vítimas. Os beijos eram socos de língua em minha boca ou no pobre e
indefeso clitóris. Ele nunca foi grande, é mínimo, mas não duvidem de sua potência para além de atômica. Eu revirava os olhinhos
como se fosse de prazer, e era, mas por sabê-los incapazes de perceber o logro, então eu caprichava. Burrice é não ousar. Eu agradeço
a Deus o corpinho de Vênus, a alma de Oxum, o cio de Oiá, o feitiço de Medusa e o talento de Salomé. Eu também adoro cabeça,
cabecinha, cabeçudos grandes e glandes, e de chupá-las até ralar o estereótipo, caralho de palavrão. Neste dia inesquecível, eu reuni
cada um dos meus personagens, fragmentos de mim, heterônimos, autônomos, perversos, sádicos, mentirosos, solitários, esquizos,
esquisitos, eu os reuni como convidados para a minha festa de 69 anos. Tá quase na hora de comer, adoro comer. Só não como
criancinhas, mas como crianções. Nunca comi um homem de verdade, daqueles que sabem que macho não são e que procuram rebolar
bem lentamente com uma parte tão pequenina dentro de nós. Por certo, os gays também adoram uma boa reboladinha, sem pressa,
com o corpo atado a vácuo, dentro de qualquer buraco. Atenção, eu disse dentro de qualquer buraco. Pervertida, eu? E você que não
larga este livro? O que pensa encontrar aqui? Eu tenho um pouco de talento, mas com os sortilégios da sacanagem. a diferença entre
mim e Brasília é que eu gosto de foder intransitivamente e os deputados fodem de verde e amarelo com a força do trabalho do povo
e o povo adora uma putaria masoquista. É preciso conhecer tudo sobre o próprio gozo antes mesmo de gozar. Quando eu soube o
que era orgasmo, já fazia uma década do primeiro e do mais fabuloso. Eu ainda não mentia, passava o dedo anelar na dita cuja besuntada
e espalhava o aroma de mirra por todo rosto. Batom eu nunca usei, só brilhinho retirado dos meus próprios pequenos lábios. Os machos
se incendiavam. Quando me perguntavam sobre o batom eu dizia que era o cheiro e o gostinho do amor. Você acha que eu mentia¿
Na hora dos parabéns, cantaram I will survive. Os gêneros desapareceram como fantasmas. Eles só existem na imaginação pouco fértil
dos verbeteiros. Verbeteiros não são punheteiros. Pra ficar chique, eu queria uma frase em latim, mas esqueci a língua morta. O latim
só serve pra foder com os padres e os fieis infernizados com as declinações de cada palavra. Ou para os padres foderem com os fieis
ensinando-lhes as declinações dos infernos. Não conheço instituição que tenha fodido tanto com os outro. Ah, conheço sim, os
militares. Adoram foder com os praças, mas estes também adoram foder como o Zé-Ninguém. E o Zé-Ninguém adora foder com o
juízo da mulher. Você também, quando menos espera, se depara fodendo com o juízo de alguém, ou então fodendo com o próprio
juízo. E isso nada tem a ver com masturbação que é coisa muito pra lá de boa, sozinha ou acompanhada com plateia. Não sei porque
coitado passou a ser coisa ruim, se coito é bom demais da conta. Ensina que o corpo tem mil artimanhas para driblar a morte e gozar
o gozo. Quando não é possível o gozo, uma boa gozação deixa o corpo leve com os risos, sorrisos e gargalhadas. Eta leveza boa, do
gozo e da gozação. Isso é jogo, do francês jouer, invencionice pra brincar de siririca. Sabe o que é? Não vou explicar. Fico imaginando
Abraão namorando Sara. Não havia Viagra. Hoje os jovens consomem Viagra com anabolizante. O corpo fica duríssimo, o coração
disparado, quase infartando, mas gozo que é bom mesmo, nada… Estou cansada, já é hora de terminar com esta foda de conto. Gostou?
Não? Preciso comer meu presente, um garotão de chocolate. É o programa de meu aniversário de 69 anos. Não rolou pagamento.
Ele quer me namorar. Ufa, não é todo dia que se debuta com tanta experiência de cama, de mato e outros bichos.
Meu aniversário
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