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Memórias de minha mãe

Hoje eu acordei ao raiar do dia e, à medida que fui me ambientando com o espaço em que estava, notei que algo estava diferente. Nada ali era desconhecido, mas era de certa forma estranho… Senti o peso de estar sozinha naquele quarto, naquela casa… E então senti uma saudade profundas das minhas filhas. Não a saudade que eu sentia usualmente. Essa saudade era mais exigente, bem no âmago do meu ser, uma dor que só mãe saudosa sente. Senti uma sensação de vazio e de abandono…

Então me dei conta que não era a minhas saudade que eu estava vivenciando. Nãooo, era a saudade da minha mãe! Era como se eu estivesse ali, vendo tudo pelo olhos dela. Comecei a perceber que as cenas que eu estava revendo tinham uma nuance mais pesada, mais dolorida, talvez pelo tanto de tempo que era sentida… Uma ânsia querência maior pela presença dos filhos, a falta do abraço e do : “Eu te amo mãe”… E assim continuei quando fui tomar banho. As filhas na casa ao lado, mas eu não as chamei! Eu me dei conta que estava vivenciando uma solidão, embora ao deitar, fosse eu em minha solitude. Como isso aconteceu. eu não sei… 

Peguei um álbum de retratos, que eu mesma havia selecionado tempos atrás, e me vi sorridente, cercada de gente… Mas não era eu, era minha mãe! Que sandice era essa que me acometia? A dor no peito, de tristeza, de saudade, era diferente. Fui até o som e coloquei uma música pra tocar. Sentei na cadeira e fiquei a me balançar, enquanto Lana Bitencourt cantava* saudosamente: 

“Além do céu
Além do mar
Além da terra
Longe de tudo
Lá onde as estrelas dormem
E o sol descansa…
Lá ficou minha esperança 

Além de mim
Além de ti
Além do amor 
Que não provei
Lá onde tudo é triste
E onde mora a solidão
Lá está
Chora em vão
Lá ficou meu coração” 

Anoiteceu e pensei com meus botões: hoje alguns filhos não vieram ver-me, estavam ocupados… E ai eu senti o peso dos meus noventa anos…

Os gatos e os cães, meu fieis e leais companheiros, estes que sempre faziam questão de estarem perto, deitaram aos meus pés e dois deles encostaram a cabeça em meu colo, e só então percebi que me perdi nas memórias da minha mãe…

 

*Música Além. Composição: Edison Borges/Sidney Morais.