Mãe

Barriga grávida

O sangue corre rápido através das veias, bombeado por um coração apressado, sufocado, ansiando por ar em demasia.

O fluxo corre e escorre através das artérias vasos e veias, parecendo buscar atalhos, saídas.

Maria desliza as duas mãos sobre o próprio ventre! Há de existir uma brecha, uma fresta, para seus sonhos germinarem; a cada sonho uma fenda, embora nem todas as fendas nos tragam luz.

Uma claridade invade o quarto advindo de fissuras nas telhas, portas e janelas…  Ela olha a barriga que a outra exibe sem emoção.  Era tão injusto ver seu filho crescendo em um ventre que não era o seu; não era seu sangue que o alimentava; não era o seu útero a protegê-lo, a guardá-lo do mundo. Mas, era seu aquele ser, não importava o que diriam as leis, a ciência.  Ela já o amava, amava a vida que se formava logo ali, dentro da outra mulher, uma estranha, totalmente estranha, mas que possuía o sagrado dom de conceber vidas.

Maria toca a barriga da outra… Quer saber se chuta, se move, se dói; acaricia um rendado feito de estrias que forrava o ventre alheio.  A outra olha os anéis, a aliança, presos em seus dedos e suspira. Uma guardiã dos sonhos da outra.

Uma a imaginar um sorriso, um cachinho de cabelos… Não seria igual aos seus, é claro!

A outra a pensar nas joias, nos sapatos.

Sonhos? Desejos? Pecados? Não conseguiriam responder.

Talvez Maria se ressentisse de Deus!

Talvez a outra se maldissesse da vida!

Mas, a verdade é que ambas perseguiam seus sonhos e isso era legitimo.

Maria sorri para outra. Agora elas são cumplices… Emocionada, Maria fecha os olhos, toca a própria barriga; quer vivenciar a magica da vida… Quer experimenta-la em seu útero, seu ventre; quer sentir o milagre que se sucede a cada vez que uma mulher abre as pernas ao mundo; arranca das próprias entranhas a vida, que lhe rasga a alma e a converte em luz!