Um velho amigo chamado Lourival, com quem eu costuma dividir a mesa de sinuca e a conta na birosca do Zé, certa vez, ele comprou um galo. Mas não era um galo qualquer, não, era daqueles bem parrudos, forte, um perfeito galo de briga. Sua intenção era levar o animal para as rixas no terreiro do Russo, e lá, fazer um dinheiro extra.
Lourival chegou em casa com o galináceo debaixo do braço anunciando a novidade para a patroa. A mulher ficou doida com o tamanho do bicho! Já queria colocar na panela e fazer um ensopado. Ai, foi a vez do meu amigo de ficar doido.
– Tá maluca, mulher! Você não toca no meu galo é nunca! Ele vai é pro terreiro do Russo. Ainda vou ganhar um bom dinheiro com ele.
Inconformada, a mulher de Lourival tentava de todo jeito pegar o galo. Mas o bicho era tinhoso e sempre escapava. O marido foi percebendo a malícia da mulher e começou a tratar o galinácio com algumas regalias. Sempre com a desculpa de que o animal precisava comer bem, engordar pra ganhar as lutas, e ele, ganhar o tal do dinheiro.
A verdade é que Lourival foi se afeiçoando ao galo, e o galo, a ele. Passaram a dormir no mesmo quarto, tomavam banho no chuveiro, sentavam-se no sofá pra assistir ao futebol e faziam as refeições na mesa. Juntos, sempre juntos. Ele passou a ter mais destaque que a patroa. Luzineide foi pegando ainda mais ranço do galo. O bicho não podia ir pra panela e ainda vivia na mordomia. Ela já estava fula da vida, com o marido e com o galo, que além de tudo, cantava todos os dias às quatro horas da manhã. Ela decidiu dar um jeito na situação. Quando o marido chegou do trabalho, foi logo dizendo:
– Você escolhe: eu ou o galo?
Naquela noite, Lourival tinha chegado em casa com outro galináceo debaixo do braço. Era uma galinha da angola, parruda, vistosa, pra fazer companhia pro seu galo de briga. Luzineide ficou furiosa e com sangue nos olhos berrava pelo quintal:
– Tu é mêrmo um caso pérdido, seu desgramado!
A patroa foi embora pro norte. Lourival, o galo e a galinha se tornaram famosos e, até hoje, ganham um bom dinheiro.
Muito bom Patricia, teu conto cantou de galo!