Trocando em miúdos

Hoje, deitado de papo para o ar, lembrei de um fato que se deu no Calçadão de Nova Iguaçu. Ele é parte das coisas que acontecem e que, por mais banais que possam parecer, acabam virando episódios marcantes nas nossas vidas. E mais: se torna hilário depois que o ocorrido passa. E aí, passa a ser uma crônica que marca a nossa vida.

Caminhava pelo Calçadão com uma certa pressa. Não lembro bem o que ia fazer, mas lembro da pressa. Lembro da simples razão de que quando passo pelo Calçadão de Nova Iguaçu e ele está cheio, sinto logo a pressa de sair do ambiente. E foi justamente com passos largos e andar ligeiro que fui interrompido, de súbito, por uma mulher. E bonita! O que tinha de bonita também tinha de malícia no falar e no se posicionar diante do interlocutor. E foi quando me disse assim:

  • Moço, bom dia! Tudo bem com o senhor? – indagou como quem se apresentasse.

Imediatamente parei, olhei atentamente nos olhos dela e os vi brilhar intensamente. Pensei comigo que aquele brilho poderia ser por encanto. Um sei lá! De fato foi por encanto. Mas não foi por esse encanto que vocês estão pensando. No início era. Mas se transformou em outro tipo de “encanto”.

Retribuindo o cumprimento e parando para dar a atenção, disse:

  • Bom dia! Tudo bem com a senhora? Em que posso ser útil?

Ao respondê-la, imediatamente o sorriso dela se abriu. E foi quando ela disparou a sua isca:

  • Obrigado! O senhor sabe como faço para ir para Niterói? – Perguntou.

Ao me ajeitar ao lado dela para apontar a direção do Terminal Rodoviário de Nova Iguaçu e ou o sentido da Via-Light, repentinamente ouvi o seguinte:

  • Hum, hum, hum!!.
  • O que houve, senhora? – Foi o que perguntei assustado.
  • Fizeram um trabalho para o senhor…

Espantado com o que ela disse, olhei fixamente nos seus olhos e perguntei:

  • Caro?
  • Não sei se o senhor entendeu. Mas o trabalho que fizeram para o senhor é muito forte. Precisa ser desfeito imediatamente. O senhor corre risco…

Ora! Ao ouvir isso o susto aumentou, mas nada de que um respirar profundo pudesse resolver. E foi no tempo desse respirar que, olhando nos olhos dela, fiz a pergunta que devia fazer.

  • Como foi esse trabalho e como devo fazer para que ele seja desfeito? Confesso que fiquei muito preocupado, senhora!

Então foi aí que sentido-se à vontade, como quem tivesse ganho a presa, a moça falou o que viu sobre mim ao me ver

  • Enterraram algo no  terreno da sua  casa.  Vai ser difícil  achar porque  fizeram,

afinal foi bem-feito. E para desfazer isso – continuou – o senhor precisa comprar algumas coisas para eu fazer um serviço e desfazer desamarrando esse o trabalho.

Perguntei a ele:

  • Como?

Ela então falou que seria melhor eu agir de outra maneira.

–  O senhor pode me dar o dinheiro que eu compro o material, pego o nome do senhor e faço algo para quebrar esse trabalho. Acho que R$ 20 dá para comprar as coisas.

Foi quanto me virei para ela e perguntei:

  • Isso está lá em casa? Colocaram escondido no meu terreno?

Ela sinalizou com a cabeça, taxativamente e com o sinal veemente de positivo do olhar. E foi nesse instante que respirei aliviado falei para ela:

  • Moça, a senhora terá que falar com toda a minha vizinhança também. Moro em

um prédio e se tem algo enterrado lá é a síndica que tem que pagar com o dinheiro do condomínio. Passar bem!

Respeito e sempre respeitei qualquer manifesto de credo, mas não de cruz-credo 71.

 

Almeida dos Santos é jornalista profissional e passou por alguns veículos de comunicação, entre eles o centenário jornal Correio da Lavoura que, em 96, iniciou carreira escrevendo crônicas, contos e matérias. Também participou do movimento poético Caco de Vidro e do Desmaio Públiko. Hoje, além de colaborar com jornais e dar assessoria de Imprensa, Almeida possui um blog sobre o bastidor político de Nova Iguaçu.