– Tchau! – dissera ela, sem olhar para trás.
Fim do casamento de doze anos. Assim. Perceptível e resumido a objetos e roupas dentro de uma simples mala de viagem. Ele já a traíra outras vezes. Muitas até. Mas ela sempre ignorou o clichê clássico de que traições dão ponto final em relacionamentos amorosos.
– Meu marido já me traiu. E daí? Qual homem que não faz isso? – pensou, com ar de vitória em tantas outras passagens.
Estranho que a sociedade meio que endossou a traição entre cônjuges, como algo permitido por ser “evento” desde que o mundo é mundo, sobretudo, no âmbito masculino. O termo “traíra” é a jocosidade entre colegas; “traidor” ou “falso”, para amigos; “infiel”, para cônjuges. Não é traição quando se trata de casal? Traição com termo correlato a sua “pomposidade”: “infiel”… Um tratado com listas, indagações, sites de fofoca, letras de música, tema obras dramáticas diversas. Não, não é traição. É infidelidade! Ela, porém, dessa vez, não quis o nome. Separou-se. Acabou-se o clichê do perdão feminino. Começou o clichê do término de romance quando há infidelidade. Por que só agora tomou essa resolução, após tantos anos de matrimônio? Porque o ex-marido havia lhe traído pela primeira vez, só que num outro sentido da palavra: ele havia dito “Eu te amo”. Pela primeira vez ele dissera “Eu te amo”, e passadas apenas duas semanas, foi descoberta sua traição conjugal. Agora ela aprendeu a fazer uso dos clichês. Demorou, porém, iria nesse ritmo até o fim. Talvez tenha sido nas ficções, ou na vida real, ou em família, ou… Bem, o seu clichê favorito passou a ser: “Quem ama, não trai”.
👏👏👏👏👏👏👏
Obrigada pelo carinho, Janice!