O grito horripilante se propagou naquela tarde chuviscada de outono, despertando a atenção das casas vizinhas de onde todos saíram à rua, juntando-se na frente do sobrado. As três janelas do prédio na parte de cima estavam abertas e nenhuma viva alma apareceu, aumentando a curiosidade dos atentos. O grito saíra de um corpo de mulher, isso era consenso entre os presentes. Sabia-se que naquele sobrado havia quatro pessoas e entre elas duas eram mulheres; sabia-se também que elas lidavam com magias e que em algumas noites e dias o prédio ficava sombrio, às vezes com iluminação roxa, às vezes lilás, às vezes vermelha e se escutavam cantos exóticos, às vezes esotéricos, às vezes em línguas estranhas, às vezes alguém parecia soluçar, às vezes choramingar, às vezes engasgar. Quem passasse mais perto escutava estalos de dedos, arrastar de coisas, pequenas risadas, vozes cavernosas e um contumaz heavy-metal todas as sextas-feiras pela madrugada.
O povo ainda atônito continuava na rua, embaixo da garoa tentando decifrar o motivo do grito agudo e assombrado, até que alguém não se contendo apertou a campainha e um homem apareceu na janela, perguntando o que queriam. Uma vizinha interpelou-o querendo saber o porquê do grito. O moço da janela riu e falou:
– Foi apenas uma barata, só que muito grande, branca, cascuda e com enormes antenas fosforescentes!
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