bonde carnaval rio antigo

Férias

Oba… Estou ou estamos de férias. O que podemos fazer? O que não podemos fazer? Tudo ou nada? Temos recursos financeiros? Agendamos alguma viagem? Quantos dias teremos disponíveis? Tantas perguntas… Se pensarmos nelas (nas férias) com antecedência, nossos pensamentos poderão navegar por grandes projetos mas, se deixarmos pra cima da hora, fica difícil idealizarmos alguma programação. Atualmente, cruzeiros, viagens internacionais e até nacionais estão, cada vez mais, fora do alcance da maioria dos brasileiros. Embora sonhos pessoais um dia possam acontecer, nos contentamos em gozar nossas férias sem afetarmos, em primeiro lugar, nosso orçamento. Depois escolhermos, dependendo da estação e/ou do clima, praias, montanhas ou serras. Para milhões de brasileiros, o “não ter de ir trabalhar e não fazer nada“ é o suficiente. Um churrasco com amigos, beber uma cerveja em um bar próximo de casa, colocar a papelada e dívidas em dia com o dinheiro antecipadamente recebido ou dar um pouco mais de atenção à família serão grandes programas de férias. E férias sensatas. Outros, sem se importarem com o amanhã ou juros altos dos cartões de crédito, se endividam “até a alma” ou são capazes de “venderem a sogra” e viajarem para o além, o imponderável, até o infinito.

Lembro-me que na infância meu pai, operário e com seis filhos para sustentar, nos proporcionou alguns momentos que até hoje guardamos na memória. Mesmo tendo regulares férias anuais em uma fábrica de tecidos, possuía um “armazém de secos e molhados” que ocupava o seu tempo disponível após a labuta diária até tarde da noite, inclusive aos sábados e domingos. Mas, em suas férias, sobrava-lhe um tempinho para passear conosco e fazer o que chamávamos de piquenique. Ele era de pouco papo e muito severo, mas demonstrava seu amor paterno em alguns momentos ou datas comemorativas. Geralmente coincidiam com o Natal, alguns domingos ou alguns dias de Carnaval, datas em que não abria o armazém ou o fechava mais cedo. Eu e todos os meus irmãos sabíamos desta sua particularidade e ficávamos na expectativa. Será amanhã, depois de amanhã, ainda este mês?… Quando, ao chegar a noite do armazém, ele anunciava um piquenique para o dia seguinte na Ilha de Paquetá (um dos seus lugares preferidos), ninguém dormia. Após o preparo do farnel e separar as roupas que iríamos, uma “guerra de travesseiros” era iniciada e a bagunça imperava no pequeno quarto onde dormíamos. Antes do amanhecer, todos estavam prontos e ansiosos para a jornada e, nas embarcações da época, pequenas e barulhentas lanchas nos levavam à famosa Ilha. Difícil descrever nossa alegria e o que fazíamos. Resumindo, eram coisas que todas as crianças gostam de fazer quando tem oportunidade e espaço: correr, brincar dentro d’agua, fazer castelos na areia, jogar bola, se sujar todo, etc. E obviamente, comer todo o farnel em poucos minutos… Nos dois dias de Carnaval escolhidos por meu pai, um deles, geralmente o domingo, era o nosso “baile de carnaval” e feito em cima dos bancos dos antigos transportes, os bondes. O que viajávamos tinha o número 66 Tijuca x Praça XV. Íamos e voltávamos no mesmo bonde e a viagem durava cerca de três horas. Cantávamos sambas e marchas (na época, centenas), e batucávamos em cima dos bancos. Jogar lança-perfume (hoje proibido) em pessoas que passavam nos bondes em sentido contrário era uma das nossas peraltices. Na terça de Carnaval  chamada “terça-feira gorda”, nossos bailes duravam menos porque tínhamos uma tia chamada Adelaide que possuía uma loja de confecções e costuras na Praça da República. Além da visita, passeávamos pela praça e, finalmente, assistíamos ao desfile das “grandes sociedades”, na Avenida Presidente Vargas. Esse desfile, em carros abertos, encerrava, na época, o carnaval de rua e era atração turística, talvez com maior ênfase que as atuais escolas de samba. Claro que atualmente, aposentado, minhas férias são diferentes em gênero, número e grau mas me recordo das que aqui narrei porque, até hoje, duas melodias carnavalescas ainda são cantadas. Com seus refrãos, encerro este conto: “Ai, ai, ai, ai. Tá chegando a hora…”, “A estrela d’alva, no céu desponta…”