casal gravidez jovem

Eta Lalá, eta Lelê – Uma maternidade internacional

Léo e Fabi são jovens de 19 anos que sonham em formar uma família com filhos, mas a vida do casal não é nada fácil. Léo trabalha como motoboy e Fabi, desempregada, apenas estuda para ter uma condição de vida que lhe proporcione melhores dias.

Uma notícia no jornal chama a atenção de Léo e Fabi: um casal homoafetivo americano procura mulher saudável para servir de barriga de aluguel.

O casal viu nesta notícia a maneira de ganhar um bom dinheiro e depois tentar ter seus próprios filhos. Fabi, mais interessada na situação, ficou radiante. Léo, mais pensativo, achou um pouco estranho, pois no informativo não fala em valores. Fabi, mais informada, diz que no Brasil é proibida a barriga de aluguel. Só pode ser concebida por membros da família com até o 4º grau de parentesco. Léo, incrédulo, não sabia nada disso e fez a pergunta:
– Como iremos fazer?

Fabi responde na maior tranquilidade:
– Já entrei em contato. Se tudo der certo, viajamos para os EUA – E complementa – Farei todos os exames aqui. Se tudo der certo. América!

Passaram-se dez meses e Léo e Fabi estavam voando para os EUA. Tudo dentro do contexto do casal, parte do futuro estava resolvido. O tempo passou e lá estava Fabi com uma gravidez confirmada.

A gestação através de barriga de aluguel é uma gametogênese, que é a produção de gametas femininos que são chamados de óvulos e o masculino chamados de espermatozoides. A partir deles são formados os zigotos, primeira célula que começa a se dividir, dando origem a um embrião.

Feliz da vida, Fabi contempla a gravidez tão esperada. Léo, mais contido, a todo momento lembra que o filho que carregam não os pertence.

Meses se passam, as visitas ao obstetra são constantes. Uma novidade para os jovens, agora com vinte anos. A surpresa maior foi quando Fabi, em uma visita de rotina, descobriu que não estavam esperando somente um bebê e sim um casal. Um misto de alegria e preocupação tomou conta deles. O casal homoafetivo também ficou surpreso, mas positivamente. Sabiam que as atenções teriam que ser dobradas.

Fabi, surpresa, queria pôr os nomes. Léo, mais uma vez, teve que lembrá-la da situação. Os meses foram passando e o grande dia chegando. Com uma gravidez tranquila, tudo dentro do combinado, a cada dia que passava Fabi alisava sua barriga e no seu consciente a sensação de ter feito tudo certo para ela Lelê e Lalá, nome dado aos gêmeos. Foram muito bem cuidados por ela e Léo, que esteve sempre ao seu lado. O amor afetivo que tinha pelos gêmeos a fazia esquecer que eram de uma inseminação artificial.

Chega o grande dia. Cesariana marcado dia 23/12/2016. Tudo corre como o combinado: Fabi entra na sala de parto, que só permite a entrada dos pais homoafetivos. Quatro horas depois Fabi acorda e pergunta pelos bebês. Apenas um enfermeiro no quarto a responde:
– Vou chamar o médico.

Fabi, ainda confusa, sedada pela anestesia, espera notícias. É quando entra o médico, acompanhado de uma enfermeira e uma assistente social, e lhe entregam um bilhete:
– Se precisar de mim, é só tocar a campainha – Diz a assistente social – Estou na sala ao lado.

Neste momento entra Léo e senta ao lado da cama. Ela abre o bilhete e lê:
– “Obrigado por tudo. Vocês foram as pessoas mais sensacionais que conhecemos!!!”

Junto com a carta estavam uma reserva no hotel até o dia do embarque, dia 02/01/2017, com tudo pago, réveillon no Times Square em Manhattan e um cheque de um milhão e trezentos mil reais que mudaria a vida do casal. Mas no momento Fabi só pensa em Lalá e Lelé. Não pensava que seria assim tão de repente, sem menos ver o rosto daqueles que por nove meses moraram em seu ventre. O choro foi contínuo, mas por mais absurdo que seja a situação, já era esperada, mas o objetivo foi cumprido com sucesso.

De volta a realidade, Léo e Fabi tentam encarar os fatos da melhor forma possível. O tempo vai passando, os dias maquinais se sucedem, meses, anos. O casal resolve que chegou a hora de terem seu próprio filho, de comum acordo. Já com a vida bem coordenada será tudo mais fácil.

Já havia se passado sete anos quando o carteiro apareceu em seu portão e lhe entregou uma pequena caixa. Ela pegou muito rápido, mas teria que assinar. Olhou, olhou… Inglaterra? Ela chama Léo e diz:
– Estou com medo de abrir.

Léo abre a caixa que contém três envelopes diferentes. O primeiro envelope de cor azul dizia:
– Aqui vai meu primeiro dente como lembrança. Me chamo Leonardo.

No segundo envelope rosa dizia:
– Aqui vai meu primeiro dente como lembrança. Me chamo Fabiana.

E no terceiro envelope:
– Obrigado(a) por nos trazer ao mundo!!!

 

“A barriga de aluguel (comercial) é proibida no Brasil. Somente Canadá, Bolívia e EUA fazem essa prática com algumas restrições.”