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Esquecimento

O quarto da filha estava pronto. Faltava apenas o berço, que já estava montado e arrumado no quarto do casal. Agora era contagem regressiva. Dentro de dois dias, estaria com a sua pequena Nathália nos braços. Como era possível amar alguém tanto assim sem conhecê-lo? Extensão do coração.

Dobrou a saída de maternidade e a colocou na gaveta. Era a mesma que havia usado quando era bebê. Era uma das poucas relíquias guardadas pela mãe que, com tendência para acumular, escolheu apenas algumas peças para guardar de recordação.  Com os pés inchados, Amanda resolveu passar na mãe que morava duas ruas depois. Enquanto esperava a mãe voltar com um suco de acerola geladinho, direto do quintal, ela se sentou no sofá e observou uma das fotos na estante da sala. Era ela com o pai e com a mãe, quando tinha cinco anos na primeira vez em que foram a Arraial do Cabo. Lembrava desse dia como se fosse ontem e sorriu.

Naquele dia, sem saber como, ela acabou se afastando dos pais. Depois olhar para todos os lados, começou a gritar:
– Mâeeeeeeee! – Gritava e a mãe não aparecia.

De repente, uma mão pousou em seu ombro. Era da senhora que alugava guarda-sol na praia. Perguntou se estava procurando alguém:
– Sim. A minha mãe – Na hora nem lembrou do pai.
– Qual o seu nome menina?
– Amanda.
– Amanda, qual o nome da sua mãe?
– Eu não sei.
– Como assim, você não sabe o nome da sua mãe?

Amanda entrou em pânico. Tentava lembrar e não conseguia. Apenas respondeu:
– Tia, eu não sei. Eu só chamo ela de mãe!

Palmas foram batidas e ela encontrou os pais. Somente depois de ter sido encontrada e de atacar o sorvete de chocolate é que o nome veio à mente: Fernanda. O nome da sua mãe era Fernanda.

Seria uma boa mãe? As dúvidas que ameaçavam tomar contam da mente perderam lugar para o amor inexplicável que já habitava seu coração. Maternidade. Mãe. Três letras que representam o infinito. Ela e a mãe acariciavam a barriga e Nathália respondeu com um potente pontapé. Amor é sintonia.