mãos criança ajuda

Era uma vez um grande coração de uma família minúscula

Eloá é uma menina humilde, órfã e muito inteligente que teve suas férias de final de ano interrompidas pela doença da avó paterna, com quem vive na periferia de São Paulo, em Pirituba. Mas as dificuldades não impedia a estudante do sexto ano de cumprir suas tarefas, que ficaram complicadas com a doença da avó, que de quinze em quinze dias tinha que ir ao posto de saúde e depois receber os medicamentos e as informações de como manipulá-los. Era uma tarefa árdua que se complicaria com o início do ano letivo.

Em uma das idas e vindas ao centro da cidade, dona Preta, avó de Eloá, muito debilitada, pede para descansar um pouco e pararam para fazer um lanche. É aí que a sorte começa a sorrir para a minúscula família, quando aparece uma menina, triste com um olhar solitário e com uma aparência preocupante, mas para a surpresa ela fica ali olhando sem falar uma palavra. É quando dona Preta se levanta, paga a conta e se vai embora. A menina só olha sem falar uma palavra. Aquilo incomodou Eloá, que resolveu falar com sua avó:
– Vó, posso comprar um lanche pra ela? Parece estar com fome.
– Pode sim. Vai lá e compra!

Eloá comprou o lanche e deu a menina que, sem falar uma palavra, ficou ali comendo com muita satisfação aquele lanche, que parecia ser o primeiro do dia. Quando a menina percebe que Eloá está saindo ela pergunta:
– É sua mãe? – Sem perceber que dona Preta já passava dos oitenta anos.
– Não, não. Sou órfã. É minha avó.

A menina dá um sorriso e fala:
– Queria ter uma avó.
– Ué, você não tem?
– Não sei.
– Como assim não sabe?
– Não sei, ora. Sei lá, não tenho ninguém, papai, mamãe, irmão…

Incrédula Eloá pergunta:
– Qual o seu nome?
– Isabel, eu acho.
– Como assim? Isabel de que?
– Não sei, só escuto falar Isabel.
– Você mora aonde?
– Uma porção de lugar. Fico por aí.

Aquela história chocou Eloá, que viu que sua situação não era a pior de todas e que poderia tentar ajudar Isabel. Para isso, teria que falar com sua avó. Dona Preta ficou tocada, mas sabia que era uma situação difícil e explicou, com toda sua experiência, o que poderia acontecer. Eloá pegou Isabel pela mão e perguntou:
– Você quer ir para minha casa? Você fica lá até procurarmos um parente seu. Pode ser?

Isabel concordou com um simples balançar de cabeça. Muito feliz, Eloá leva Isabel ao seu quarto e ela fica encantada com a quantidade de bonecas, que já não faziam mais parte da sua infância, mas que encantou Isabel.
– Caramba, que bonito! Posso brincar?
– Pode, não brinco mais. Meus brinquedos agora são esses.

Ela tira uma mochila do guarda-roupas com livros, cadernos, lápis e diz:
– Vamos brincar de adedonha?

Eloá tira uma folha de caderno, pega uma caneta e dá na mão de Isabel, que olha pra Eloá e diz:
– Eu não sei escrever e nem ler.

E com os olhos mareados, Eloá diz:
– Você quer aprender?

Isabel, balança a cabeça e diz que sim. Eloá abre seu guarda-roupas e pega peças de roupas para Isabel:
– Vai tomar um banho, vou ensinar você a ler e escrever.

Aos poucos Isabel vai aprendendo, mas Eloá precisa fazer mais. Tem que encontrar algum familiar de Isabel, pois as aulas irão começar e ela precisa ir para a escola. O problema é que Eloá só tem onze anos e dona Preta mais de oitenta.

As aulas começam, Eloá faz um trato com Isabel que a essa altura já se parecem irmãs:
– Você fica com minha avó até eu voltar da escola. Quando eu chegar, te ensino tudo que aprendi, até resolver sua situação. Eloá leva o problema para a psicóloga da escola, que o leva até o conselho tutelar.

Hoje, Isabel mora em um lar coletivo, estuda e ainda procura seus familiares, mas em quinze em quinze dias recebe a visita de Eloá e dona Preta, que ela jura que são seus familiares.