Eu a reencontrei no final de semana. Queria revisitar onde morava e me propus a acompanhar. Encontramo-nos no ponto da van, que tomamos e fomos. Já no bairro, afastado apenas uns três quilômetros, seguimos caminhando e fomos rever alguns locais que frequentavam juntos. Senti sua emoção saltar ao rever detalhes do bairro, que eram imensos dentro do coração. Para mim também não foi fácil. Já tivemos um caso quando ainda morava ali… E tudo também fazia parte de minhas reminiscências.
Enquanto caminhávamos pelas ruas familiares, cada esquina parecia sussurrar segredos dos nossos passados. Dos dela… e do meu, com ela. O café onde costumávamos ir tinha mudado de dono, mas o aroma do pão fresco ainda evocava risos e conversas profundas. Lembrei-me de como costumávamos discutir sobre tudo, desde trivialidades até nossos medos mais profundos. O moço da tapioca, que eu não conheci, mas que já fazia parte das minhas lembranças (pois ela me contara) apenas apregoava o seu produto em nossas mentes.
Ela disse que sempre degustavam a conhecida tapioquinha do bairro… E que iam cantando em direção a banca do rapaz. Revi a cena, pois aconteceu algo parecido em uma vez que adquiri dois litros de vinho “safado” para uma noite que jamais esqueceremos. Naquela ocasião, com dancinha e tudo, ela cantou: “Teremos vinho, teremos vinho!”
A cada passo à frente, um nó apertava em nossos peitos, no passado. Não sei se ela entendeu o meu sofrer… Creio que não… Nunca entendera! Disfarçarmos o chicote buscado com assuntos sobre os tempos atuais; estando em uma montanha-russa e falando sobre a última peraltice do filho!
E a conversa fluiu, como se o passado fosse um presente. Mas à medida que revisitávamos os lugares, percebi que as memórias não eram apenas doces; havia também uma dor subjacente. Relembrar momentos felizes ao lado de alguém que agora faz parte do meu passado, trazia à tona sentimentos conflitantes.
Sem que percebêssemos, e isso parecerá jocoso, sentamos à mesa de um bar… Não qualquer um… Um dos “nossos!” Estávamos vivendo duas eras, ao mesmo tempo. Ficamos quase no mesmo lugar de “sempre”; quisemos reclamar da altura do som, mas… Não eram as mesmas pessoas. A altura do som era outra, mais comedida. Bom, pedimos as mesmas bebidas e os mesmos petiscos.
Fui tomado por uma onda de nostalgia e saudade. A vida tinha seguido em direções diferentes para ambos, mas ali estávamos, compartilhando memórias que nos uniram uma vez. Ela, não sei se pra camuflar os sentimentos, e não acredito nisso, falava, orgulhosa e loquaz, de suas recém conquistas em novos afazeres. Eu… teimava em pensar em nossos momentos, juntos! Eu pensava em 3D; alienação; buSextão; G.A.; caminhadas sem grana; o espelho “minorme!” da parede; a farofa de arroz com ovos mexidos colocada à mesinha, em cima da cama;… E tantas outras coisas que compuseram o nosso passado. Lembrava apenas como o exercício de levar chicotadas e jatos de álcool, ao mesmo tempo… Um dilema e uma aflição me corroíam… Ela nunca fora a pessoa que cheguei a imaginar que fosse… Eu a quis maravilhosa… Uma deidade. E ela foi apenas… Humana… Sucumbiu aos caprichos da mesma forma que qualquer uma se prostra e se deixa enrolar. Uma vez falamos sobre isso:
– Estás sendo enredada… O místico está te abraçando! Quando vires não tem mais volta!
– Que nada, eu sei muito bem controlar os meus sentimentos!
Não sabe! E agora não tem mais volta, como predisse!
Fechamos o bar. Pelo menos isso continuava igual. Fomos para outro, onde encontramos “amigos”… Daqueles que quando sabem que ela está “sozinha”, entre aspas, apressam-se em dizer o quão sua vida é triste, solitária, e que estás prestes a se separar! Gargalho, mentalmente e relembro nossa conversa:
– Você está sendo enredada… Quando vires não terás mais volta!
– Que nada, eu sei muito bem controlar os meus sentimentos!
Duvi… D. O. Dó e faço Pou… C.O. Có!… Ela gosta disso!
Meu interesse surgiu porque pensei que fosse diferente… Escritório, cama, mesa e banho!… Não é!… Já era!
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