pai filha negros

E se eu fosse branca?

Era uma tarde ensolarada e o cheiro de café invadia o apartamento de Jorge. Ele, em seu home office, se preparava para mais uma reunião importante do escritório de advocacia, o qual era sócio, quando subitamente sua filha, Ana, entra e lhe faz a pergunta mais surpreendente que já havia feito em seus doze anos de vida:
– Papai, e se eu fosse branca?

O pai, buscando em sua experiência de vida e na inspiração de seus ancestrais, suspirou e respondeu:
– Filha, sua cor de pele é parte de quem você é. Nossa pele e nosso cabelo contam histórias que o mundo precisa ouvir. É como a música que toca em nosso coração e nos conecta às nossas raízes. Sendo preta, você carrega consigo a herança de nossos ancestrais, de seus sonhos e lutas. Se você fosse branca, talvez não sentisse o peso da história que carregamos, mas também não teria a força que ela nos dá.

A menina, ainda tentando entender, questionou:
– Mas o que isso significa, pai?
– Significa que você é parte de uma história rica e vibrante. Nossos antepassados foram reis e rainhas em suas terras, guerreiros, curandeiros, artistas. Eles dançavam, cantavam e se uniam em comunidade, mesmo contra as adversidades. Se você fosse branca, talvez tivesse uma história diferente, mas não superior. A cor da pele não define a grandeza do que podemos ser.
– Mas pai, na escola, as crianças ficam rindo do meu cabelo, dizem que é esquisito – Ana respondeu, olhando para o chão, envergonhada.

O pai a abraçou, sentindo a dor da filha e falou:
– A força que você vê em mim, de ter lutado para me tornar advogado e quebrar barreiras, vem de toda uma história de resistência. Cada cacho do seu cabelo é uma peça dessa história. Infelizmente, algumas pessoas ainda não aprenderam a valorizar a diversidade e a beleza que existe em cada um de nós. Nosso cabelo é uma coroa que carrega a história e a resiliência dos nossos ancestrais. A cultura negra é parte fundamental da construção do nosso país. A música que ouvimos, as danças que dançamos, a culinária que amamos — tudo isso brota de uma cultura rica. E seu cabelo é a expressão disso, também.
– Então, ser negro não é um peso, mas uma forma de luta? — indagou Ana, agora com um brilho nos olhos.

O pai assentiu:
– Sim, filha. É uma forma de resistência. Devemos honrar nossos antepassados e continuar a lutar por um mundo onde todos sejam tratados com igualdade e respeito.

A menina sorriu, sentindo-se mais forte e falou:
– Obrigado, pai. Vou lembrar disso sempre.