descobrimento

É mera coincidência?

Era sua primeira visita ao vizinho, que morava longe, mas tinha uma bela e rica casa à beira mar. Foi há muito tempo, no final do mês de abril, na semana da páscoa. A viagem foi tranquila, e em pouco tempo o homem estava em companhia do novo amigo, trazendo consigo alguns presentes baratos. O vizinho era jovem e sua casa era espaçosa, repleta de peças de arte produzidas em material muito valioso, principalmente ouro e prata. Eram candelabros antigos, cinzeiros e lustres, e quadros com molduras feitas de bronze.

O velho visitante, que já tinha o objetivo de tirar algum lucro da amizade conquistada, foi ficando. Uma semana, duas, dez. Ao fim de quase três meses, já era o dono da  casa. Comia, bebia, desfrutava da bela louça e dos talheres importados, e das belas roupas. Os poucos moradores da casa eram criaturas ingênuas e bondosas, e prontamente se abriram para a aproximação, sem questionar e sem fazer caso do abuso. Em pouco tempo, até mesmo a religião do visitante passou a ser seguida pelo vizinho e seus familiares. Gente muito boa e pronta a absorver conhecimento de verdade. Com o estreitamento da amizade e a confiança adquirida, deparou-se o velho homem com a oportunidade de seguir viagem de volta a sua terra. Assim, lotou um baú com tudo aquilo que conseguiu de mais precioso na casa alheia.

O vizinho continuava conformado e feliz com os pentes, espelhos baratos e tecidos vagabundos que recebera de presente na ocasião da chegada do amigo. Este saiu cedo e sem despedir-se, enquanto o jovem dono da casa custava a se dar conta de que estava liso e de que sua pequena família tinha sido saqueada. Agora, tinham apenas a penúria como tenebrosa companhia e futuro.

O sol sorria, derramando-se sobre o dourado das riquezas saqueadas. O mar era a principal testemunha da invasão, mas não podia interferir nem impedir o ato ardiloso. Da primeira embarcação do dia, o velho viajante deixava uma risada debochada sob o espesso bigode grisalho e experiente. A melodia era a do tilintar dos inúmeros objetos dentro do baú obeso e reforçado. O último gesto oferecido ao jovem vizinho foi o de uma formidável banana feita com os braços rechonchudos. Na casa da vítima, banana foi só o que ficou sobre a extensa mesa, ocupando o lugar dos ricos objetos de outrora.

 

CÓPIA DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA REALIZADO NA OCASIÃO:

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

POLÍCIA FEDERAL

DELEGACIA DE POLÍCIA/ CENTRAL DE FLAGRANTES

BOLETIM DE OCORRÊNCIA MANUAL

 

DATA :21/07/1500 – HORA DO FATO: 05h35

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COMUNICANTE: ÍNDIO NÚ 

 

NATUREZA DA OCORRÊNCIA:

Natureza……………………..: FURTO

Forma…………………………: CONSUMADO

Meios Empregados………: LÁBIA, CONVERSA BARATA E PERSUASIVA

Motivação…………………..: AMBIÇÃO

 

OBS:……………………..: SEM QUALQUER MANDADO DE PRISÃO EM ABERTO. FICA O ATO SEM RESOLUÇÃO E SEM POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO DOS BENS FURTADOS.

 

Motivação do registro: …………………..: FICHA CAÍDA, EMBORA TARDE.

 

VÍTIMA: PAÍS NASCIDO SOB O SOL DOS TRÓPICOS:

Nome………………………: TERRA DE VERA CRUZ

Mãe:……………….……….: NATUREZA

Pai:……………………….…: TUPÃ

Naturalidade ……………: DO BERÇO ESPLÊNDIDO, DA COSTA, DA PRAIA BRAVIA 

Sexo:……………………..…: MASCULINO

CPF…………………………: 000.031.214.00

RG…………………………..: 127.30.111-1

Estado Civil………….….: CASADO

Nascimento:…………….: 21/04/1500                IDADE:   3 MESES

Estado…………………….: DE CHOQUE

Cidade…………………….: TUDO O QUE O SOL TOCA EM SEU ABRAÇO QUENTE

Bairro……………….…….: ESTE

Logradouro……………..: AQUI

 

MATERIAL LEVADO NA CARA PAU: TUDO O QUE HAVIA DE VALOR EM RESIDÊNCIA  RECÉM-DESCOBERTA.

EM POSSE DE: VISITANTE COLONIZADOR.

 

NARRATIVA: QUE O AUTOR DEIXOU O LOCAL DO CRIME SEM LESÕES CORPORAIS E SEM ALGEMAS. BUSCAS NÃO FORAM REALIZADAS. CONTUDO, SEU DESTINO É CONHECIDO . A VÍTIMA QUE LUTE.

 

OBS.: O SISTEMA DO SROP E DO CIOSP ESTÃO INOPERANTES DEVIDO A FORTE CHUVA OCORRIDA NA TARDE DESTE DIA; A POBREZA SE INSTAURA SOBERANA.

ENTRE FRUTOS E FURTOS, AINDA HÁ BANANAS! SOMENTE BANANAS.