dona olhuda

Dona Ana Olhuda e o olho de sogra

Não sei se olho de sogra é pior que olho gordo, mas com certeza não vejo com bons olhos nenhum dos dois. Digo isso porque tive o desprazer de lidar com eles em situações adversas comigo e um amigos.

Dona Ana Olhuda

Lembro de dona Ana Olhuda, minha vizinha invejosa, que não gostava de ver ninguém feliz que logo perguntava sem nenhum rodeio qual era o motivo de tanta alegria. Se a pessoa caia na asneira de contar o motivo, era pule de dez que a coitada sofreria uma grande decepção na sua vida. Um caso muito comentado na rua foi o que aconteceu com o Manuel da Farmácia, que espalhou pelos quatro cantos que iria parar de trabalhar e se aposentar. Tinha ganho na loteria uma bolada e faria da sua vida e da família um paraíso. Como já era noite, disse a todos que no outro dia cedinho iria bater ponto na Caixa Econômica e realizar seu sonho. Foi muito festejado por todos e, entre abraços e apertos de mão, recebeu também de dona Ana Olhuda palavras de felicitações e um olhar de “ternura”. A desgraça do pobre Manuel da Farmácia estava selada. No outro dia, a caminho do Japeri, foi cercado por dois meliantes armados que levaram, sem pena e sem dó, a capanga do pobre zé onde se encontrava o bilhete premiado. Quando os amigos souberam do ocorrido foram unanimes em dizer:
– Foi o olho gordo da dona Ana!

Olho de sogra

Marinalva achou que já era hora do Valdemar conhecer os seus pais. Quem sabe assim ele resolvia dar fim àqueles cinco anos de namoro e finalmente fizesse o pedido de noivado. Foi receoso, mas decidiu que era hora de conhecer o casal. Sabia, por outros, que o pai era uma pessoa muito bacana, mas a mãe nem tanto assim… O pai, sabendo da visita do futuro genro, preferiu beber umas e outras no bar mais distante para não assistir ao massacre do pobre homem. Conhecia muito bem a mulher que tinha.

Quando ele entrou de mãos dadas na casa da namorada e foi apresentado à sua futura sogra, ela com uma cara de quem comeu mas não gostou, olhou por baixo dos óculos e os seus olhos, sem fazer curva para a direita e nem para a esquerda, o fuzilou de frente e disse sem nenhum pudor:
– Minha filha, isso é homem que se apresente a uma mãe temente à Deus e que paga todas suas contas em dia ?
– Mãe, o que você vê de tão errado nele?
– Tudo! É feio, tem cara de pobre, orelha de abano e, ainda pior, chega mais bêbado que uma porca, todo amassado, parecendo ter saído de uma garrafa. Nunca pensei que os meus olhos veriam tão triste visão.

O coitado do Valdemar, aturdido com aquela metralhadora giratória, se recolheu num canto e não disse nada. Marinalva ainda tentou sensibilizar a mãe:
“Mas eu amo ele assim mesmo.” Foi em vão. A mulher voltou mais feroz ainda:
“Meu Deus, não botei filha no mundo para ter destino tão cruel. Será que joguei pedra na cruz?”

Valdomiro, ao sair da casa da namorada depois ouvir todo aquele “rosário” de elogios, descobriu naquele dia que olho gordo é pinto, que não tem coisa pior que olho de sogra.