Prachede acompanha Gertrude com os olhos pelo retrovisor da viatura, “Inacreditável! Surreal!”, Ele pensava em voz alta, “Uma senhora, meu Deus!” Ele parecia inconformado, suspira.
Prachede havia pegado o caso da Velhinha do Pó de um companheiro de trabalho que sofrera um acidente de moto, o investigador Neto. A princípio duvidara que fossem verdadeiras as suspeitas de tráfico que recaiam sobre a pobre velhinha; riu das deduções e chegou apostar com amigos a inocência da senhorinha! Mas, pelos os resultados das suas próprias investigações, já percebia que perderia a aposta, “Uma
senhora!”, Ele abana a cabeça, “Poderia ser a minha mãe!”, Pensa, incrédulo! “Uma velha! Quase 70 anos!”. Ele Explode:
– O mundo está mesmo perdido!
Prachede sai da viatura e segue Gertrude pela estrada de paralelepípedos que dá acesso a comunidade, sem ser notado. Ao longo de suas investigações descobriu que a velha meliante, morava na favela do Rato há mais de vinte anos, com filhos e netos. Convenientemente trabalha de merendeira em uma escola de ensino secundário em um bairro próximo, onde provavelmente comercializava a droga todos os dias. Ela segue andando rápido na sua frente; uma bolsa rota de couro abraçada ao corpo. Outro dia Prachede esbarrou de propósito ao passar por ela jogando a tal bolsa no chão e a viu, desesperada, agachar-se no meio fio para conter uma lata grande de mantimento que ameaçava rolar pela estrada. Era só uma lata, antiga, destas de propaganda de leite condensado, mas para quem já vinha obcecado pela investigação, aquela lata mesmo vazia, lhe dizia muitas coisas.
E hoje era o dia de descobrir todo o mistério. Ele olha um pouco à frente e certifica-se de que o reforço pedido estava presente, ao alcance de sua voz no rádio de comunicação. Prachede aumenta o passo, queria detê-la antes que entrasse na comunidade. Há poucos metros da entrada, os detetives à paisanas. Ludovico e Nonato já os aguardavam. Quando ela passa por eles, os policiais a detém; abrem a bolsa e
neste momento Prachede se aproxima a tempo de abrir uma pesada lata onde, sem surpresa, descobre um
pó branco. E lhe dá voz de prisão!
Já na delegacia, a anciã chorava que dava pena; dizia o tempo todo que era pelos netos, que fazia aquilo; que estava muito envergonhada, mas tinha uma filha cadeirante e cinco netos pequenos para criar.
– E a Senhora achar que para criar seus netos, a senhora tem o direito de prejudicar os filhos dos outros?! – Esbraveja o delegado Teixeira indignando.
– Eu não queria fazer mal a ninguém! – Choraminga a velhinha diante do delegado.
– Como assim? A senhora vende cocaína para os jovens de dentro de uma escola, e não quer fazer mal a ninguém?
– Que isso, seu moço?! – Gertrude, desesperada, arregala os olhos! – Eu não faço isso não! – Nega a senhora com o corpo todo.
– Não?! – Repetem, em coro, Prachede e o delegado. – Então o que é isso? – Pergunta Prachede antecipando ao delegado Teixeira, enquanto aponta a tal lata.
Confusa, Gertrude responde:
– Açúcar!!
– Açúcar??!! – Mais uma vez se ouve o coro, parecia ensaiado!
– Como assim açúcar?
Agora era Prachede o desesperado, coloca um punhado do pó na boca, para se certificar da veracidade do que ouvia! – Mas, açúcar! Por que? Por que a senhora anda com açúcar todos os dias para baixo e pra cima, minha senhora? É para enlouquecer um pobre policial? É, minha senhora?
Entre soluços, lagrimas e muita vergonha, Dona Gertrude contou que roubava açúcar há dois anos na despensa da escola em que trabalhava. Tudo começou quando a sua filha, mãe de cinco crianças foi atropelada por um motociclista e perdeu os movimento das pernas. Logo em seguida o marido a abandonou. Desde então a família vive dos doces e bolos que ela faz para cantinas e festas. E esse açúcar, confundido
com cocaína pela polícia, tem ajudado a aumentar os lucros.
Hoje, isso já faz um ano, e como sempre Prachede vem acompanhar dona Gertrude ao orfanato “Meu Guri”, onde toda semana ela vem cumprir sua pena; trazer bolos e doces aos internos. Atualmente, Malvina, filha de dona Gertrude, trabalha na confeitaria da cidade e dona Gertrudes, aposentada, cuida feliz dos netos.
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