Transsex dress

Desventuras em sexo

Era “hétero”, sim!… Sim, mesmo!… Que não reste dúvida sobre isso… Como muitos deixam. Garantem que são machos, mas… Depois do terceiro ou quarto copo… Tudo o que vier eles topam! Ronaldo, não… Na verdade nem gosta muito dessa parte da letra dos gaúchos… Cantava: “Depois do terceiro ou quarto copo, ‘quase’ tudo o que vier eu topo”… “Ele gostava muuuuito de pessoas com o pé da barriga rachada! Adorava!… Mas, estava cansado! De ser hétero? Deveras! Tentou até andar rebolando, mas achou muito inconveniente. As mulheres rebolam naturalmente, sem pensar. Ele… Pensava! Aí não dava certo, quando esquecia, desrebolava! Claro que fazia isso em seu apartamento, no centro de N.I. Não é Nova Iorque, não… É Nova Iguaçu, mesmo!

Ronaldo já tinha tido muitas mulheres, de todas as cores… De várias idades e de vários sabores! Participara de suruba, swing, ménage, homenagem, tuuuudo! Tinha um casal de amigos que final de semana sim, final de semana não, ligava e o chamava para beber umas cervejas e depois, invariavelmente, acabavam em algum motel… Sempre um novo. Nunca repetiam. Um, que tinha uma moto no quarto; outro, que tinha um barco; cadeira erótica, assistente erótica virtual, balanço, algema e chicote, cavalo e… Não me perguntem mais o quê, vão lá conferir! E não era só esse casal. Através deles, swingers declarados, conhecera outras pessoas. Casais do mesmo “metier”… Aliás, metiê, tinha muito a ver com aquelas pessoas. Adoravam viver na fanfarra, na orgia, naqueles rituais em honra, ou desonra ao deus Dionísio, ou Baco, para os mais íntimos.

Então, estava estressado, extasiado, extenuado de ser macho e resolveu experimentar o outro lado da vida! Iria ser mulher… Isso, mesmo! Ainda estava na flor da idade, com apenas trinta anos e seria uma jovem balzaquiana, já que não se adaptara à tentativa de viver entre os “Cross-Dressers”.

Mas, esperem!… Não contei tudo. Ronaldo tinha um trauma de relacionamento… Uma decepção amorosa, sim. Explico. Desde pequeno era apaixonado por uma coleguinha de escola, a Samara! Cresceu vendo sua paixão ir se distanciando de seu coração. Nunca teve coragem de esclarecer o seu amor. Na adolescência, tremia só ao vê-la… Gaguejava só de pensar em e falar-lhe algo. Cada vez mais gostosa. BBG, como os garotos a definiam: Boa, Bonita e Gostosa! Bom, o tempo passou e ela casou! Casou e se mudou. Sumiu de sua vida. O medo de amar novamente pode ser um dos piores sofrimentos na vida de uma pessoa, pois atinge diretamente o emocional, abala o psicológico e muitas vezes somatiza no corpo. Desistiu, então! Se não ela, ninguém teria o seu coração.

Ele? Operou, sim. Tinha dinheiro, era vice-presidente de uma grande empresa de engenharia civil. Deu-se umas férias, foi aos Estados Unidos e fez a planejada operação. Mudou de nome, transmutou-se para Camila… Manteve o sobrenome.

Voltou ao Brasil como Camila de Albuquerque Nunes. De volta à empresa fez uma festa para todos e foi bem recebida. Para não perder o gosto por mulheres, declarou-se bissexual. Foi apoiado. Realmente ficara uma linda mulher! Fez curso para andar igual às fêmeas! O andar feminino pode ser definido como uma dança: uma dança da mente. Centrada e relaxada, a mulher caminha no ritmo. O movimento dá vida à sua postura.

Esperou uma semana para ir a um bar onde poderia conhecer pessoas e escolher aquele ou aquela a quem entregaria sua virgindade. Trocara de carro, mas continuou com um automatizado e o parou próximo ao Lesblon. Desfilou e chamou a atenção de todos os frequentadores. Escolheu uma mesa ainda afastada. Estava “apreensiva”. Pediu um “virtuoso”. Ao lado havia uma moça, também sozinha, bebendo um drink desses que brilham no escuro. A luz negra também a fazia brilhar, pelas suas roupas. Caraca! Percebeu que estava chorando!

– Oi! – jogou o corpo em sua direção.
Ela o olhou, secando as lágrimas.
– Oi! – respondeu.
– Estou sozinha, posso sentar com você?
– Sim, pode!
Ele pegou o drink e foi sentar ao lado daquela jovem.
– Primeira vez que venho a esse bar e você?
– Estou morando aqui próximo, venho de vez em quando. – Ela redarguiu.
– Você parece tristinha… Brigou com o namorado, namorada?
– Por aí… Desilusão amorosa, mesmo!… Uma longa história, triste e enfadonha!…
– Bom… Tenho tempo!… E histórias enfadonhas pra trocar!
Ela a encarou, com meio sorriso e uma fungadinha linda. Ela a lembrava alguma amiga, não sabia qual.
– Pra encurtar… Casei com um canalha!… Parecia um príncipe, mas era um sapo. Doze anos de sofrimento. Sorte que não tivemos filhos, na verdade usava anel… – Percebeu que ele não entendera – … Anel, vaginal.
– Ah, sim, claro… Ele ainda mora com você?
– Que nada! Eu o deixei nos Estados Unidos… Armei tudo. Fingi que bebia com ele, que se embebedou, espalhei cocaína pela casa toda e chamei a polícia. Soube que foi preso e ainda descobriram umas falcatruas na empresa em que trabalhava…
– Então deveria era estar feliz, extasiada…
– Que nada!… Eu tinha uma amor aqui no Brasil, desde os meus tempos de escola… Ele era muito tímido, mas bem lindinho… Era apaixonada por ele, que não se declarava… Cresci e fiquei doida para me ver livre da casa dos meus pais. Foi quando me apareceu este canalha que me levou para os Estados Unidos!
Ele ficara gélido, desde quando ela iniciou sua narrativa. Agora pegou em seu queixo:
– Por acaso, só por acaso, o nome dele é Ronaldo?
– Sim!!!… Você o conhece?
– Sou… Sou… Prima dele! – Soluçou.
– Que legal, você vai me ajudar a encontra-lo!
– Ele… Ele… Ele morreu! – Respondeu chorando.