Noite chuvosa e gelada em Cadicó. O casal andava apressado pela rua deserta. De vez em quando, olhavam ao redor, como se estivessem com receio de serem vistos por alguém. Na verdade, não precisavam recear nada, pois já estavam perto do terreno onde iam deixar o conteúdo da mochila.
Nas costas do homem, uma mochila grande, daquelas de acampamento que parecia pesar uma tonelada, pois ele andava curvado, com o pescoço arqueado em direção ao chão. Talvez o peso da culpa pelo ato cometido fizesse com que ele andasse mais encurvado ainda.
A mulher, com pressa de terminar com aquilo, adiantou um pouco o passo. Tinha na mão direita uma sacola de plástico com alguns utensílios de jardinagem e na esquerda uma lanterna pequena, tentando iluminar o caminho na chuva.
Ao ajeitar a lanterna nas mãos, a mulher iluminou, sem querer, o que parecia de longe ser uma criança de uns quatro ou cinco anos. Ela bateu no ombro do marido para ele olhar para frente, e qual não foi o terror dos dois, ao reconhecerem na criança, chorando e com uma expressão de dor, parada na chuva, o filho, o mesmo filho que o pai carregava sem vida na mochila.
Muito bom esse texto !!👏🏽👏🏽