cisne asas abertas

Depois do Patinho Feio

Era uma vez um cisne muito bonito! Seu pescoço longo era gracioso, tinha movimentos suaves. Suas asas brancas, quando abriam no sol, refletiam um lindo brilho! Era o mais belo de todos! Quando pequeno, foi confundido com um patinho. O chamavam de patinho feio. Como ele era um filhotinho de cisne e ninguém sabia, achavam que ele era diferente, feio, desajeitado e fazia um barulho horrível! É que filhotinho de cisne quando nasce é bem diferente dos patinhos amarelinhos fofinhos que todos acham uma gracinha. Eles nascem meio cinza, maiores que os patos e grunhem (grunhir é o som que o cisne faz) e assoviam, diferente dos patos.

Ah! E por causa dessa confusão, como o pequeno sofreu! Todos o achavam feio, odiavam o som que ele fazia e não o queriam por perto. Ele saiu de casa sozinho, foi maltratado, passou por coisas muito ruins, e foi crescendo na rua, sem ninguém para explicar as coisas para ele…

Até que um dia, ele se deparou com vários cisnes num belo lago e eles disseram a verdade para o nosso pequeno andarilho. Ele não era um pato, estava crescendo e se tornando um belo cisne branco. Ele se olhou no reflexo na água do lago e viu que era verdade! Como estava feliz! Tinha irmãos que o achavam bonito, adorava conversar com eles e aprender a como ser um cisne. Agora tinha um lar que todos o aceitavam! Parece um final de história bem legal, não é? Só que não!…

Com o tempo, parecia que o belo cisne tinha se esquecido de tudo que tinha passado e agora, odiava coisas, animais e pessoas que julgava serem feias. Olhava para os patinhos que entravam na lagoa e pensava: “Nossa! Como são esquisitinhos esses patos! Eles fazem um “quaaaac” bem demorado, que começa alto e termina baixinho, parecem que estão perdendo a voz e ficando roucos! E ainda por cima, quando crescem, andam tão desengonçados! E os sapos então! Aff! Como são verdes e gosmentos. Aquela língua enorme saindo da boca para comer insetos é nojento!”

O cisne acabava dizendo essas coisas em voz alta e, às vezes, ria dos outros animais, abrindo suas belas asas e nadando pelo grande lago para mostrar sua beleza. Dava conselhos estranhos do tipo: “Patinho, até que tenha crescido, que tal não gracitar? Quando você crescer, o som vai ser menos ruim. Ah! E tenha certeza que a aparência de vocês vai mudar pra melhor…não muito, é claro, mas vai. E todos vão apreciar mais vocês.” Ou então: “Amiguinhas abelhas, não podem zunir mais baixo? Vocês acabam dando nos nervos com todo com esse zum, zum, zum! Não podem polinizar as flores com menos barulho?”

No início, os animais não ligaram pra esse jeito do cisne. Mas com o tempo, começaram a se afastar dele com receio que os olhassem torto, ou falasse algo que poderia não ser legal. As mamães dos animais nem deixavam mais seus filhotinhos perto dele.

O cisne nem percebia e só foi notar que algo estava errado quanto até mesmo seus irmãos cisnes começaram a falar pouco e andar menos com ele. Estava ficando sozinho de novo e não entendia o porquê.

Dona coruja, calada, mas muito esperta e observadora, um dia, parou num galho próximo ao lago e perguntou ao jovem cisne: “Olá, meu jovem! Como você está? Parece triste. O que houve?”

“Não sei” – disse o cisne. “Os animais que adoravam ver minha bela plumagem e ouvir meus assovios longos agora nem passam perto de mim.”

É por conta do que você anda dizendo” – disse a sábia coruja. Você anda tratando mal a todos.”

O quê? Eu? Só porque dou conselhos para eles melhorarem? São feios, estranhos, alguns desengonçados e fazem um barulho horrível!”

Hum…feio, estranho, desengonçado, barulho horrível…mas não era assim que você dizia que os outros te achavam quando você era pequeno e foi confundido com um patinho? Lembro-me de que você disse que isso o magoava e do quanto se sentia tão solitário. Você até fugiu de casa por se sentir tão diferente e maltratado!”

É…mas isso é diferente!! – defendeu-se o cisne. 

“Não, não é! Você está ferindo os outros com suas observações. Elas são ditas com desdém e orgulho. Só porque agora você é muito bonito por fora, não quer dizer que está sendo bonito por dentro. Ao contrário!”

“Bonito por dentro? O que é isso?”

“Foi meio jeito de falar. Na verdade, ser bonito ou feio não tem a ver com ser bondoso ou mal. Você pode ser bonito por fora e não ser um bom cisne, tratando todos do jeito que você está fazendo. Sua beleza de nada vai adiantar se não for alguém bacana com os outros. Talvez, sem perceber, você esteja descontando neles toda dor e solidão que passou! A beleza pode até atrair no início, mas é o jeito que você trata os outros que fará com que eles gostem ou não de estar com você. Não deixe ninguém te magoar pelo que você é ou seu jeito de ser, mas também não magoe ninguém pelo jeito deles serem.”

O cisne ficou perplexo! Será que estava fazendo isso mesmo? Pensou e viu que era verdade. Como tinha sido ruim! “Eu cresci por fora e fiquei lindo, mas fiquei feio por dentro. Guardei mágoas dentro de mim por tudo que sofri e descontei nos meus amigos, como disse dona Coruja…” 

“Como posso mudar isso?” – perguntou, ansioso, o Cisne. “É simples! Primeiro, peça desculpas do fundo do coração e passe a tratar todos como gostaria de ser tratado. Diga para eles o que gostariam que te dissessem, mas com respeito e carinho. Não é para você deixar de falar e dar conselhos. Mas somente conselhos que podem ajudar de verdade e não que diminuam o jeitinho de cada um.  E aprenda a ouvir o que eles querem te dizer. Ouvir o que o seu colega sente é muito importante também.

A partir daquele dia, o cisne se tornou diferente. Seu pescoço longo era gracioso e o usava para fazer carinho nos patinhos e nos demais filhotinhos. Tinha movimentos suaves com palavras suaves para todos. Suas asas brancas, quando abriam no sol, refletiam um lindo brilho e ajudavam os animais menores a se protegerem do calor! Agora sim, ele era o cisne mais belo de todos!