Quando os atabaques rufaram na religião de matriz africana, o canto brilhou na força do som. Os umbandistas já sabiam que era dia treze de maio: baixava no terreiro o Preto Velho, nascendo de novo a cada suspiro do Ogã.
Preto que de velho traz o branco nos cabelos, a coluna curvada do peso do tempo, montado na sua história de escravizado. Senta no banquinho, toma um gole de vinho, recebe com pertencimento a dor do devoto.
Levanta as mãos ao céu, numa prece de saudação a terra onde pisa, à água que mata a sede, ao fogo trazendo a luz no fim da caverna e ao ar transmutando o sopro do nascimento.
De posse do respeito, de joelhos, a mãe de santo, a babalorixá, pergunta ao espírito visitante:
– Preto, de onde vens?
– Venho da ferida da guerra, na busca pela evolução da humanidade.
– Quem é o adversário nesta luta?
– O mal.
– Como venceremos a batalha entre o bem e o mal?
– Acabando com a ignorância.
– Por quê?
– A maldade é fruto da ignorância humana, da incapacidade de ver no próximo um pouco de si mesmo.
O Preto Velho da lida, tímido de ser, pediu licença – levantou – partiu pra dança… Agradeceu, altivo, ao criador o milagre da vida; rodou no ponto tocado em sua homenagem. Abandonou o galope do cavalo, saiu de banda na roda de umbanda.
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