Eram dois. Formando um lindo casal de agapornis. Sempre unidinhos, voando pela casa toda (os tutores não os prendiam de modo algum!), e fazendo um escarcéu condizente com a alegria deles. Ele chamava-se Leone; ela, Leona. Atendiam pelos nomes, sibilando um som engraçado levando a todos da casa rirem.
O casalzinho já havia gerado seus filhotes – coisa de cinco ou seis – que os tutores trataram de doar aos órgãos competentes para evitar o tráfico animal. Pois essa ave é silvestre e muito procurada por contraventores. A duplinha romântica estava sob a tutela legalizada de seus pais humanos.
Leone e Leona não eram dois à toa. Quando os pais humanos resolveram criar esse tipo de ave silvestre, foram aconselhados a levar um casalzinho. A solidão para eles pode ser fatal…
Pois, agapornis é o tipo da ave extremamente amorosa! Não consegue viver só. Uma vez escolhido o seu par, ficam juntos para o resto de suas vidas. E esse sentimento tão bonito se espalha para todos a sua volta. Porque eles dividem e multiplicam amor.
Em um momento triste de sua trajetória, por algum motivo desconhecido, Leona apresentou sinais de fraqueza e não aceitava mais afagos de ninguém. Nem queria comer. Seus tutores trataram de levá-la ao veterinário para descobrir o motivo de tal abatimento. Um péssimo prognóstico: a esposa de Leone encontrava-se com anemia profunda.
Antes de ser resgatada pelos órgãos voltados para a causa silvestre, Leona vivia solta na floresta. Não se sabia o que comia e qual era a sua real procedência. Começaram os pais a cuidar de sua pequena filha. Porém, não houve tempo. O problema era congênito. Em poucos dias, a linda, pequenina e muito amorosa Leona, partiu.
Todo mundo se comoveu. Todos choraram muito. Mas a preocupação maior foi com Leone. Passou a não querer comer. Não queria mais carinho em suas penas coloridas.
Desesperados, seus pais empurravam, através do bico adunco, seus alimentos prediletos, que eram muitos (principalmente maçã, que ele adorava!), para que sobrevivesse ao luto e pudesse voltar ao normal.
Pensaram em arrumar uma outra esposa. A chance era mínima de sua recuperação. Além de que, levaria muito tempo para saírem os papéis oficiais no intuito de ajudar seu pequeno filho com a nova aquisição emplumada. Os dias foram passando rapidamente… E nada de Leone melhorar!
Então, seus pais se lembraram da máxima que caracteriza os seres daquela espécie: o amor. Começaram a fazer plantão perto do ninho da ave carinhosa, não o deixando sozinho nunca. Sempre brincando, incentivando-o, dando-lhe os remédios certos e a alimentação adequada.
Naturalmente, Leone não entendia o que estava acontecendo ali. Faziam caretas divertidas, e tentavam – todos os familiares – imitar o som engraçado que emitia a esposa daquela linda ave silvestre.
A ave é do amor, a linguagem universal. Leone compreendeu com o tempo o que os seus tutores queriam para ele. Não sentiu-se mais sozinho. Voltou a comer. Voltou a ser amoroso!
Racionais, irracionais, temerosos, destemidos, ricos, pobres… Com amor, nem tudo se resolve. Mas ajuda bastante… O amor está por toda parte!
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