Circo

As palavrinhas enfileiram-se no início do parágrafo, juntas, dão as mãos, numa ciranda com a imaginação, trazendo a você leitor a satisfação de conhecer uma nova história.

O mágico fazia mágica pra viver; do circo tirava o sustento da família e do cachorro.

A esposa do dono do circo era a gostosa que sumia na caixa preta. Certa feita desapareceu de verdade, aparecendo depois ninguém sabe onde…

O casal de pombinhos morava em Adrianópolis, nos braços da natureza, pertinho da cachoeira.

O Circo Adrianópolis contava no elenco com o palhaço Cosquinha, o domador, o engolidor de sapo, a cobra cascavel, o tatu e o porco do mato.

A companhia circense cabia numa Kombi 1972 — quatro pneus carecas— na cor amarelo girassol, um verdadeiro luxo!

O elenco reuniu-se na praça, ligaram a Kombi, deixaram a máquina esquentando, atravessaram a rua na intenção de tomar a saideira. Conversa vai… Enrola, conversa volta… Concluíram a edição do espetáculo a ser realizado em Santa Rita…

No bar, espreitando, elemento mal-encarado (enchia a cara) vestia a camisa número treze do Nova Iguaçu Futebol Clube;  falava sozinho, cuspindo no chão de cimento a toda hora, repugnante.

Motor aquecido, tripulação a bordo, os bichos na jaula do bagageiro; o palhaço tira do bolso o celular, fazendo a self do Circo Adrianópolis. Rola a viagem, a cidade despede-se pelo retrovisor…

Havia tanto buraco na Estrada de Adrianópolis, desvia deste, cai naquele, mas o IPVA sempre vencia. Passa a viagem na janela: vala aberta, criança descalça, pau a pique e sapê.

A poeira ofusca a visão, ultrapassa em alta velocidade uma motocicleta; o condutor estampa o número 13 nas costas, some na fuligem…

A pista, íngreme, possui várias curvas — uma entrando na outra— dobra a direita, entra na esquerda; lá vem surpresa: dois pelados, um homem mais uma mulher, desesperados, correm em meio à rodovia, seguidos de perto pelo torcedor do Nova Iguaçu, com um porrete na mão…  O motorista desvia, pisa no freio, o pneu estoura no buraco, a ribanceira abre os braços, o fim se aproxima…

A cobra, desvencilhada da armadilha, projeta-se no ar, respira fundo, pula na roda, substituindo o pneu… O veículo retorna ao curso anterior, porém o burrinho do freio enforca… A lata velha não para, a velocidade aumenta, a tragédia é inevitável!

Nova bravata, o tatu, em missão suicida, gruda no para choque, rola na frente da Kombi, forçando uma freada brusca!

Cobra estirada no chão, tatu precisando de socorro, descem todos os passageiros, manifestando em coro:

—O quê fazer?

O horizonte denuncia, lá longe, crescendo a imagem pouco a pouco, o homem pelado rola um pneu montado:

—Meu irmão! Troca o pneu por uma bermuda?