Ruiva adolescente mar praia

Chegada

Ela andou por toda a orla da praia até que, ao pôr do sol, encontrou-se finalmente com o cansaço. O azul lhe invadia a pele e entrava pelos poros de modo que até sua alma tornou-se turquesa. Os cabelos ao vento, totalmente arrepiados e as pegadas firmes, que serviam de guia ao cachorro, único ser fora do azul, andando leve sobre as areias que eram ao mesmo tempo peso e leveza, vida em pó e morte escorrida.

A luz era clara e dolorida, tinha o efeito de uma espécie de mão protetora que impedia que o azul lhe virasse do avesso. Essa luz era contundente, e assim ela quase não podia enxergar adiante, fechando então os olhos e por vezes somente sentindo o ar entrar sem licença pelos pulmões disponíveis. O cachorro ali ficava, companhia silenciosa e acessível.

Finalmente deu-se conta de que não podia mais sair do lugar. A luz que lhe enlevava, ao mesmo tempo lhe paralisava os movimentos, e ela se sentiu inútil. Livre e inútil, diante de um afogamento impossível, impedido por uma bolha de luz que lhe envolvia e soterrava. O mar assistia em silêncio.

Ao passar dos minutos escorregados, o cão latiu estridente e furioso, fazendo-lhe despertar subitamente nas almofadas escuras e grosseiras do sofá da sala. Observada pelos poucos móveis e amparada pela calmaria da mãe, soltou-se então do encantamento do desmaio. Eram alguns graus de febre e a adolescência que lhe batiam à porta.