Continuava ali, sombria, inerte. Houve um tempo de movimentos que embalavam sonos enveredando em sonhos de céus azuis e voos de corrupiões…
Era também um recando para recordar as gaiolas, os animais barulhentos e as pessoas em farrapos durante o trajeto do desconfortável ‘pau de arara’, onde o menorzinho vomitou e teve febre durante a viagem rumo a cidade grande, enquanto os outros quatro rebentos se revezavam nos cuidados com o irmão mais novo.
Agora estava ali e só restava o cheiro impregnado do fumo em seus braços de palha gasta e encardida, onde dona Josefa pitava e mascava seu fumo.
Dona Zefa trouxera sozinha seus cinco filhos. Marido morto. Não tinham como sobreviverem naquele sertão. Mulher forte. Nunca mais quis saber de homem. Não tinha tempo para isso. Vida dedicada ao trabalho de diarista, para cuidar das crianças. Vida dura. Horas vagas vendia doces numa barraca improvisada por caixotes, perto das sinaleiras.
Só quando chegava em casa, durante o escasso tempo que lhe sobrava é que desfrutava da cadeira e soltava sua imaginação. Enquanto se balançava na cadeira que era um dos poucos móveis que conseguira em doações, fazia dali seus raros momentos de prazer. Fechava os olhos para ver um céu colorido de pássaros: “Meu céu de corrupião”, como ela sempre dizia.
Agora, a cadeira estava ali, estática, imóvel. A vida continuava. O sertão estava longe. A cidade grande engolira três dos seus meninos. Só o menorzinho, agora um homem feito, ficava com um nó na garganta, um aperto no peito e os olhos lacrimejantes, olhando absorto para aquela cadeira vazia no canto da casa, no canto do mundo. Num mundo sem cores, de um céu agora também vazio…
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