mendigo cachorro

Caio César

Mendonça ia fazer quatorze anos quando seu primeiro filho nasceu. E desandou a fazer filhos depois que se tornou caminhoneiro. Teve fase que engravidava de três a quatro mulheres por ano. Enquanto nascia um rebento no sul, lá no norte tinha outro por vir. No país inteiro ficou rastro do Mendonça e tinha filho que ele nem sabia que era seu. Só parou aos setenta e nove anos, por conta de um bico de papagaio e a diabetes, que não lhe permitiram mais dirigir. Tampouco fazer filhos. 

Terminou seus dias sozinho pedindo esmolas na praça de Coelho Neto. Morreu engasgado com um pão seco entalado na garganta. Aliás, morreu sozinho não, até o último instante, Caio César ficou do seu lado. Ele ainda tentou tirar o pão duro da boca do Mendonça e não conseguiu. Mesmo assim, não saiu de perto dele até os bombeiros chegarem. 

Havia passado algum tempo que o Mendonça morreu e Caio César continuava ali na praça, perambulando por todos os cantos à espera do amigo.

Caio César foi ficando cada dia mais triste e acabou se jogando debaixo das rodas do 905, Bonsucesso-Irajá. 

Não sobrou quase nada do Caio César. Somente o rabo e o focinho.