Era tão bonzinho, um menino de ouro, educado, jamais usava palavras de baixo calão. Um virtuoso, de casa pra escola, depois de casa pro trabalho. Exemplo de filho, ótimo esposo, pai atencioso.
Como a moeda tem cara com coroa, uma mesma estrada traz o lado direito em paralelo ao esquerdo; não parecia ser diferente com Alfredo. Na presença da mamãe era incapaz de matar uma mosca, por debaixo dos panos amarrava morteiros nos rabos dos gatos na rua. Molhava a meia de urina, de prazer mórbido, ao presenciar os bichos estourarem as tripas no ar.
Matava as formigas que arrastavam a fome na mesa da cozinha, denunciava a bagunça dos colegas na escola, mentia descaradamente, roubava as esmolas da sacola na igreja, participava da campanha do agasalho para colecionar casacos, aprontava todas.
Na sala de aula um capeta, aliciava os colegas na prática de vandalismo, incentivava o desrespeito aos professores, liderava as pichações no colégio e nos monumentos públicos.
O bonzinho, CDF, cumpridor das tarefas, com o caderno em dia, sempre sério na frente dos mestres, com comportamento exemplar. Perpassava bipolaridade, personalidades em choque. Duma parte exemplar, formal; doutra o cão chupando manga, assim se resumia aquela mente maquiavélica.
Frequentava a igreja, rezava, pagava o dízimo, levava o entorno na lábia, investia no olfato da freguesia, vendia perfumes pra manter a prole, possuía uma loja no shopping. A família o endeusava, até virem à tona as personagens oriundas daquela cabeça macabra.
Vez por outra dizia que ia orar, porém se fantasiava de mulher, aparecia na pista, rodava bolsinha, fazia a festa do prazer. Alfredo adorava os baixinhos, tinha uma tara na estatura mediana. Antes do badalar da meia-noite recolhia o figurino, retornava ao lar, abraçava a esposa, beijava os filhos na cama, deitava no travesseiro, dormia como um anjo.
A situação saiu do controle com o noticiário policial, a mídia exibia os crimes sexuais ocorridos nas mediações do prostíbulo. Os veículos de comunicação relatavam as mortes no Porto de Itaguaí, eram assassinatos em série… Os investigadores estavam intrigados com as características dos corpos: todas as vítimas tinham menos de um metro e setenta.
A máscara caiu ao descobrirem o autor da carnificina, tratava-se de um travesti da zona portuária, um serial killer, um psicopata, com inúmeras personalidades. Em prazo relativamente curto, as autoridades prometiam solucionar os casos, manter a ordem e reprimir a prostituição no local.
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