Era uma vez… Bel, um ursinho, lilás e branco, com um coração no peito, onde se lia “I love you!”
Fora lançado de um carro por uma menina má!… Não!… Por menina que cresceu em uma casa, onde os pais enfrentavam problemas matrimoniais, advindo de um trauma pós-parto adquirido pela mãe. A falta de amor em seu lar, convivido pela menina, a fez descontar no ursinho presenteado pelo pai.
Certo dia, seus pais estavam de mudança, a menina se livrou do Ursinho Bel, jogando-o pela janela do carro, de cima do viaduto. Atropelado duas vezes, na pista debaixo, Bel estava sendo levado por um cãozinho quando o mesmo também foi atropelado. Socorreram o cão, mas não perceberam Bel, que ficou só espiando a cena… Espiando e pensando…
Sim, pensando, uma mágica aconteceu… E o Bel começou a pensar!
– Caramba!… Estou todo dolorido!… Será que eu posso andar?… Não. Não posso!… Devo ter quebrado as pernas…
E o tempo foi passando. Bel, pensando. Pensou em Rechene, a menina que o atirou do carro. Ficou com pena dela. De repente, vieram todas as lembranças do que “vira” naquela casa. Olhou a lua, linda, cheia! – Nossa!… Que linda!… “Minorme!”… Queria morar lá, deve ser maravilhoso!
Apaixonou-se pela Lua. Paixão vã, de adolescente. Mas séria. Queria a lua, mas teve um pirilampo.
– Oi!
– Quem, eu?
O Pirilampo pousou em um matinho próximo.
– É! Que lindo!… Nossa! Vocês são muitos! Que espécie de bichinhos são vocês?
– Nós somos Pirilampos… Pirilampos, não vaga-lumes!
– E qual a diferença?
– Nós temos essa luzinha em nossa traseira, que pisca! O vagalume tem na frente como os olhos e não pisca, além do que parece uma espécie de besouro. Eu sou um pirilampo macho e nós piscamos em sincronia para atrair nossas fêmeas… Vivemos apenas dois meses!
– Poxa!… Não sei quanto tempo eu vivo… O que é uma fêmea?
– Ei!… O que vocês estão fazendo aí? – pergunta Astolfo, aproximando-se.
– Estamos apenas conversando! – reponde Bel, – Eu e o… Qual é o seu nom…
Mas, o pirilampo já havia voado….
– Era um pirilampo! Ele estava com pressa! E você, o que é?
– Sou um rato!… Meu nome é Astolfo… E qual é o seu nome? Por que não levanta, vamos conhecer os meus amigos!
– Meu nome é Bel, sou um urso de pelúcia! Eu não posso andar…
Responde o ursinho tentando se erguer! Levantar-se! Alguém falou ao longe:
– É meia-noite em ponto!
– Ei, eu posso andar!… Eu posso andar – Fala, correndo em volta do rato.
Olhou a lua… Pareceu que ela lhe havia piscado!
– Claro que pode. Vamos conhecer os meus amigos!
– Claro que sim!… Quero conhecer todo o mundo!
Astolfo morava embaixo do viaduto, com sua família. Caminharam e chegaram em uma das estruturas de concreto que suportavam o elevado. Havia também muito lixo, caixas velhas de madeira e de papelão, móveis abandonados, muito plástico de supermercado. Bel não achou aquilo muito legal!… Mas havia vida! Conheceu Adam, o gato de olhos bicolores; Francis, uma cadela vira-latas, com uma gravatinha toda suja; um chihuahua medroso, chamado Roger; uma mariposa, de nome Atíria; Mas, nenhum urso! Estava feliz com aqueles novos amigos. Todos queriam conversar e saber suas aventuras. Adoraram os seus pelos… Ah, e a sua cor… Mas, ainda assim, sentia-se solitário!
– Como você veio parar aqui? – Perguntou Lala, a cadela.
– Caí de uma mudança. – Em parte, não mentiu!
– Poxa! – Disse o rato. – Sua família?
– Estão tentando ser felizes! – Concluiu.
Atíria sugeriu que aproveitassem o luar e fossem até uma praça abandonada, não muito longe. – Eu não vou – disse Roger.
– Vamos todos! – Arguiu Francis.
– Tá bom, eu vou, mas tomem conta de mim… Sou muito pequeno…
– Sei!… – disse Atíria – Qualquer coisa eu faço isso!
Voou para um lugar mais escuro e pousou de ponta-cabeça! Abriu as asas e houve uma grande transformação. Virou coruja!
– Ai! – gritou Roger.
– Calma, não sou má… Voltou mariposa, para perto do grupo. A natureza me deu esse poder para eu afastar algum inimigo. Vamos?
E o grupo seguiu para a tal praça. Tinham que atravessar três vias muito movimentadas. Usaram a passarela, espertos. Que silhueta interessante, ao luar, daquele grupo distinto seguindo em fila indiana. Um urso, um gato, dois cães, um rato e uma mariposa.
Chegaram à tal praça:
– Bem melhor! – Disse Bel, já entrosado.
Cada um tinha coisas para contar ao recém-chegado. Atíria contou que já tinha participado de um filme; Roger falou que já tinha sido cão de guarda. Na verdade ele fora de um guarda de segurança. E foram se entretendo, e participando, um na aventura do outro. Tão belas quanto perigosas, nostálgicas… Ou de arrepiar. Mas o alvor estava chegando. E bateu aquele soninho, em todos. Teriam que retornar. Não deu tempo! Bel acordou no mesmo local onde fora deixado depois do atropelamento do cãozinho. Olhou em volta, não viu os seus amigos. Não entendeu nada. Foi quando se sentiu levantado. Alguém o erguera!
– Oi… Eu sou o João!… Fui eu quem salvou o “espaguete”, lembra?… O Cãozinho que estava carregando você!… Ah, ele está bem!… Aquela moça que parou o carro e nos levou era uma veterinária. Alice! De muito bom coração. Coloquei o nome de Espaguete por que ele parecia um… Não pude deixar de ver vocês dois ontem. Passei a noite lá com ele, mas fiquei torcendo pra te encontrar por aqui hoje… Sou morador de rua, mas onde eu paro mais pra dormir… Tem uma garotinha, o nome dela é Rejane… Ela vai adorar conhecer você! Vamos!?
E o homem levou Bel, abraçado, até a menina de nome Rejane. Chegaram. Eram uns abrigos na beira da estrada, embaixo de outro viaduto.
Havia um monte de crianças brincando. O homem o escondeu atrás das costas e chamou:
– Rejane!… Tenho um presente pra você!…
A menina se destacou do grupo e foi até ele que apresentou o ursinho.
– Caracoles, que lindooo! – Falou a garota quase pulando no presente! – Só precisa de um banho! – Eles riram!
Bel pensou: “Caracoles, ela é a cara da Rechene!”
De fato, a garota parecia ser gêmea da Rechene… Em trajes mais rotos!
– Eu vou chamar ele de Bel!
– Bel? Por que Bel? – perguntou João.
– Olha só!… Ele tem uma carinha de Bel!… Eu vou brincar com ele todos os dias! Eu te amo, Bel! – Os olhos da menina brilharam. Bel viu isso!
Ela tinha o luar nos olhos. Entendeu o recado. Agora tinha uma família!
– Bel, eu volto aqui com o Espaguete… Vai adorar saber de você! – Disse João se afastando – Obrigado, Tio João… Adorei o presente! Vem, Bel, vou te levar pra casa… Eu não moro aqui, mas é aqui perto… Sou filha adotiva… E vou adotar você!… Minha mãe é assistente social e vem ajudar esse povo. Venho junto pra brincar com as crianças e passar algumas lições que aprendo na escola. Vamos está na hora de ir!
E Bel foi com ela e com sua meiguice! Tomou banho e vive muito feliz ao junto com Rejane!
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