Eu sempre vestia a camisa do meu time quando ele perdia. Vestia do avesso, onde o escudo encostava diretamente em meu coração. Era uma forma de solidariedade e ao mesmo tempo de esconder, colocando pelo avesso, a minha decepção.
Até sei que sempre perdemos mais do que ganhamos. A vida é assim. O mundo é assim. Somos derrotas mais que vitórias. Nossas lutas, na maioria das vezes, são murros em pontas de facas e sempre saímos feridos. Porém, quando ela se foi, eu morri mais do que deveria e toda coberta não me livrava do frio. Minha tristeza sofria de geada que nenhum cobertor era capaz de aquecer. Logo eu, acostumado a grandes perdas, a homéricas desilusões, tremia de bater queixo, de bater com a cabeça nas paredes. Sentia-me nu, de uma nudez que nenhuma roupa seria capaz de cobrir. Uma nudez de ausência, de uma irreparável perda que o destino me proporcionava e a partir daí, comecei a conversar com o espelho que me convenceu a tapar a boca, o sexo, o grito, a vendar os olhos, a esconder o choro…
Porque viver é isso, é estar sempre nu, desde o dia em que nascemos, e só nós conhecemos nossos corpos, onde escondemos celulites, rugas, cicatrizes, defeitos, e até mesmo a solidão. E no final, fingimos que está tudo bem e vestimos a camisa ao avesso. Aquela mesma camisa, sempre com o escudo virado pra dentro.