Era uma vez… Quanto tempo não começo uma história desse jeito, mas vamos lá!
Pedrão, apesar do aumentativo, era um menino dócil, com seus dez anos. Iniciando a pré-adolescência, já era notório o seu grau de autismo. Como é difícil o relacionamento entre os coleguinhas e com a própria mãe. Sempre muito fechado, menino de pouquíssimas palavras. A, como é difícil, Suely, sua mãe, faz de tudo, mas Pedrão é difícil e a rotina continua. Até que um belo dia, ao passar por uma loja, essas tipo caça e pesca, Pedrão para em frente a um aquário e fica ali por segundos a olhar os peixinhos bailando nas águas sujas daquele aquário. Suely pega na mão de Pedrão, que persiste, mas sai sem dizer uma palavra:
– Que foi, filho? O que foi? Você está sentindo alguma coisa? Vamos, pois a festa na escola já vai começar!
Pedrão, sem falar uma palavra, segue de mãos dadas com sua mãe. Ao chegar na escola, Pedrão senta longe de todos. Os autistas não gostam de barulho e muita gente. Suely tenta animar o filho:
– Vamos, filho! Você quer pipoca, cachorro quente, um refrigerante?
Pedrão, sem falar uma palavra, levanta e pega a sua mãe pelas mãos e a leva para a barraca de pescaria e aponta com o seu dedo indicador. Suely, aliviada com a escolha do filho, pergunta:
– Você quer pescar?
Balançando a cabeça, Pedrão diz que sim. Imediatamente, Suely compra os tickets e o leva à pescaria. Pedrão, com os olhos fixos nos prêmios espalhados em uma mesa, começa a pegar, com ajuda de Suely, que feliz da vida achou alguma coisa que Pedrão gostasse:
– Eeeee, pescou! – Pedrão levanta o anzol número cinco, uma bola de futebol, nenhuma satisfação no rosto.
– Eeeee, pescou! – Número sete, um jogo de boliche, alegria zero de Pedrão.
– Poxa, filho, você pescou uma bola e um boliche. Esse é o último ticket.
– Eeeee, pescou! – Número dez, prêmio máximo da mesa, um carro de pilha.
Pedrão não sai do lugar, insiste em ficar ali parado, olhando para a mesa que se encontravam os brinquedos. Sueli puxou o Pedrão pelo braço, que fez força para não ir e apontou o polegar para mesa. A mãe, sem entender, pega os brindes que Pedrão pescou e dá em sua mão. Para a surpresa de Sueli, Pedrão não quer e continua apontando para a mesa. É quando a funcionária que trabalha na pescaria faz a pergunta:
– Senhora, eu acho que ele quer trocar o brinde.
– Como assim?
– É normal às vezes as crianças pescarem e trocarem de brinde.
– Poxa, ele pescou uma bola, um boliche e um carro de pilha. O que mais ele quer?
– Ele só quer trocar. A senhora veja o que ele quer e trocamos.
Suely pega Pedrão pelas mãos e o leva dentro do cercadinho pra ver o que ele queria. Para sua surpresa, Pedrão escolheu um peixe de plástico. Talvez para algumas crianças seria o brinde mais simples da mesa, mas para Pedrão era o máximo, com um sorriso no rosto, sem blush, aliviado. Sem dar uma palavra, Sueli chega em casa, coloca os brindes no sofá: a bola, o boliche e o peixe de plástico que foi trocado pelo carro de pilha:
– Pedrão, vamos no quintal pegar uma bacia com água.
Sueli entra no banheiro para tomar seu banho e, para sua surpresa, Pedrão está ali com o seu peixe de plástico dentro da bacia, empurrando com o seu polegar o peixe para nadar. Sueli fica olhando aquele momento muito raro de Pedrão, feliz com um simples peixe de plástico.
Na manhã seguinte, Sueli, ao acordar para levar o filho para escola, vê que ele já estava com a roupa, calçado nos pés, com a bacia e o peixe:
– Não, filho, você não pode levar essa bacia para a escola.
Pedrão, muito triste, vai com a Sueli para a escola e, ao passar pela loja de caça e pesca, lembrou do peixe. Pedrão, mais que rápido parou em frente ao aquário, o mesmo de mentira, e fica ali olhando. É quando Sueli chama o vendedor e pergunta:
– Que peixe é esse?
– Está interessado em um peixe para o menino?
– Sim!
– Vou lhe mostrar. Aqui tem peixe muito mais bonito, olha só! Um monte de peixe, um aquário gigante no interior da loja. Olha esse! Aquele tem oito cores! Esse é importado! Esse aqui é o peixe palhaço. Ele vai adorar!
Mas Pedrão já tinha escolhido o seu peixe. Enquanto ele mostra as variedades, Pedrão faz um negativo com a cabeça e com um polegar aponta o peixe sozinho no aquário. Sueli olha para o filho e para o vendedor e pergunta:
– É esse, filho? Tem certeza?
Pedrão balança a cabeça e sorri.
– Vou levar esse então. Meu filho quer esse!
– Mas senhora, esse peixe não tem nem cor. Ele vive sozinho nesse aquário. Me parece que está até doente. Ele vive dentro dos corais. Não sei como seu filho gostou dele.
Sueli pagou ao vendedor e disse que quando voltasse da escola apanhava no aquário. O vendedor pegou uma bolsa e o aquário. Olhou, olhou…
– Cadê esse peixe? Ele só aparece quando esse garoto vem aqui.
Ao retornar da escola, Sueli e Pedrão vão até a casa de caça e pesca. Ela pergunta:
– Esse peixe tem nome?
– Sim, é um aruanã! Original do Amazonas, eles gostam de viver sozinhos.
Quando o vendedor olha para o aquário, está ali o aruanã interagindo com o Pedrão, que feliz da vida passa o polegar pelo aquário, fazendo com que aruanã mude de direção a cada comando seu. Sueli, feliz ao ver a alegria do filho, comenta:
– Aruanã agora não está mais sozinho.
Pedrão olha para mãe e para o aruanã e diz três palavras em três dias de silêncio:
– Nem eu, mãe!
Que conto bonito e tocante, meu amigo. Parabéns
Obrigado, vc sempre deixando sua opinião, pra mim é muito importante!
Muito lindo a história.
Com certeza elaborada com muito carinho❤
Maravilha!
Amei esse conto. Já vi ele num livro infantil ilustrado.