Estavam todos muito ansiosos. Fazia um ano desde o último encontro na chácara da tia Rute. Reunir toda a família era coisa sagrada para os Gonzales. Ano após ano, realizavam o tradicional almoço de família e a quantidade de pratos à mesa aumentava a cada novo membro agregado.
Os irmãos, eram sete. Euvira, Rute, Olavo, Elena, Raquel, Ovídio e Eunice. Além dos sete, somavam-se seus cônjuges, filhos, netos e ainda, os amigos, vizinhos, os noivos e as namoradas dos filhos e netos. Era muita gente reunida e uma grande farra!
Mas aquele seria um almoço especial. Nicinha, como chamavam carinhosamente a caçula dos irmãos, se tornaria sexagenária. Viúva há três anos, tinha superado com extrema resiliência a saudade do falecido.
A festa aconteceria na fazendo do tio Ovídio, no interior de Goiás. Pela importância do evento e pela distância, duraria o final de semana. Aos poucos, os Gonzales foram chegando e se acomodando na casa principal e nas casas anexas para os convidados.
O leitão já estava sendo assado, a galinha caipira, o feijão tropeiro e a rabada com agrião, tudo sendo preparado com muito capricho. Os homens se encarregavam dos pratos salgados e as mulheres das sobremesas. Tias Euvira e Raquel faziam todo tipo de doce com milho, tias Rute e Elena, os doces de ovos e leite, e Nicinha, os docinhos de amendoim e coco. O olho de sogra era sua especialidade, ninguém fazia melhor.
Durante os preparativos, muita música, boas conversas, fofocas, brincadeiras e gargalhadas. O tanto que se distraíam, às vezes alguns pratos desandavam, mas ninguém se importava, todos comiam e lambiam os dedos.
Já estava quase tudo pronto para o primeiro jantar, quando tio Ovídio fez a pergunta fatídica:
– Cadê o bolo?
Mais de cinquenta pessoas se entreolharam com os olhos bem arregalados. Pois não é que tinham esquecido o bolo da tia Nicinha?! Foi um rebuliço na fazenda, mas já não dava tempo de preparar pra comerem depois do jantar. Então, decidiram que para o almoço do dia seguinte, fariam um bolo muito, muito especial. Bolo de três andares, ornamentado, com duas generosas camadas de recheio e as flores comestíveis que tia Eunice tanto gostava.
As panelas já estavam novamente no fogo, tudo sendo preparado para o grande almoço, e o bolo sendo enfeitado. E mais gente chegando.,. Até o novo fazendeiro, amigo de tio Ovídio, foi convidado para a festa.
O almoço estava tão delicioso que ninguém queria se levantar da mesa. Mais uma taça de vinho, outra sobremesa, mas enfim, vamos cortar o bolo. Todos em uníssono celebraram tia Nicinha mais sex do que nunca. A fila pra cumprimentá-la estava imensa, e no último lugar, Ruan, o fazendeiro, amigo de tio Ovídio. Encantado estava pela família Gonzales, mas quando soube que Nicinha fizera o doce de que mais gostava, enamorou-se.
A fofoca foi inevitável e as boas risadas também. Tia Eunice tornou-se sexagenária e conquistou um belo de um crush. Bendito olho de sogra!
Nada como uma festividade junto aos familiares. Belo conto. Parabéns!
Muito bom Patrícia. Depois de alguns meses em que você estava tentando vir, foi muito bom contar com sua presença no Aleatórios! Abraço.