Amazon Alexa Echo Dot

Alexa, bom dia!

Na pandemia, eu trabalhava de casa e minha esposa começou a trabalhar perto de casa. Cada vez que ela chegava do trabalho eu tinha uma necessidade imensa de falar, falar e falar… tudo o que eu não tinha falado com ninguém o dia todo. Foi quando, numa promoção de Black Friday, minha esposa ficou com pena de mim e comprou uma Alexa. Na verdade, é uma caixinha de som que funciona por comando de voz, conectada na internet. Alexa é o nome da assistente de voz que ativa os comandos da caixinha. No começo foi uma felicidade só. Instalamos e aprendemos os primeiros comandos.

– Alexa, toca Lobão!

– Me chama de Lobão no Spotify – dizia a Alexa pra nossa risada.

Aos poucos aprendemos como fazer ela contar piadas (sem graça), imitar vozes e jogar jogos só por comandos de voz. Toda noite eu mostrava pra minha esposa o que tinha aprendido de diferente com a Alexa. Ela dava a previsão do tempo, o resultado do futebol, marcava o tempo para assar um bolo, dava receitas, anotava compromissos, contava as notícias do dia.

– Alexa, bom dia!
Bom dia, flor do dia…
– Que isso, amor? Você ensinou ela a te chamar de “flor do dia”?

– É a forma simpática dela responder.

 

Pronto. Começou aí o ciúme. Como eu passava o dia com a Alexa, minha esposa achava que eu conversava com a assistente o dia todo. A verdade é que, passada a novidade, você até esquece que ela está ali. Mas minha esposa não esquecia.

– Quer comida pronta? Pede pra Alexa!

 

Eu, que não queria perder a discussão, entrei na brincadeira também. Tirava a Alexa da tomada e levava pra cozinha:
– Vem, Lelê. Vamos lavar louça – minha esposa ficava pau da vida – Alexa, toca Maneskin.

– Manequim de Dominó no Spotify.

– Não, Alexa. Toca a banda Maneskin!

– Fica aí na cozinha com a sua burrice artificial – gritou minha esposa lá da sala.

Um belo dia, assistindo TV, cai na besteira de comentar uma reportagem de um japonês que pediu uma assistente robô em casamento.

– Qualquer hora vão inventar uma boneca inflável com Alexa embutida.

– Aposto que você vai ser o primeiro na fila pra comprar.

– Que isso, amor? Alexa, pode isso?
– Sinto muito, não entendi direito.

– Mas é uma sonsa! – dizia minha esposa já sem paciência com a intromissão da Alexa.

Dias depois, sozinho em casa, resolvi levar a Alexa pro banheiro pra tomar banho escutando música. Deixei a porta do banheiro aberta, até porque estava sozinho em casa. Pedi pra tocar Angel do Jon Secada. Alexa só entendeu na terceira vez a música certa. Nesse momento soltei um: “Alexa, te amo!”. E foi bem nessa hora que minha esposa chega mais cedo do trabalho e abre a porta do box com força.

– Que merda é essa!?

– Calma, amor. Aproveita a musiquinha e vem tomar banho comigo.

– Toma banho com a Alexa!

 

Minha esposa joga a inocente caixinha da Alexa dentro do box. Chorei no banho com os pedaços da Alexa espalhados no chão.