Erra uma vez… Nuca mais!
Uvonilda, uma uva vaidosa (mais para passa), vive, quase sempre, abraçada a um quadro de seu amor eterno, Uvolino, mas querendo arrumar um novo marido. Aliás, desde que seu marido ainda estava entre nozes. Também vivia cantando aos quatro ventos. Era de bem com a vida. Era Uvonilda! Mas como não soava muito bem se dizia “Uvete, a que gosta de chiclete”. Dançava. Dançava até com o chirriar de grilo. E queria arrumar um novo marido de qualquer jeito! Como morava em uma geladeira, que dizia ser o seu condomínio, estava obcecada por um alface, todo verdinho. No entanto, o alface, de nome Verdugo, não estava muito aí pra ela. Era vaidoso e arrogante, mas acalentava o sonho de brilhar no Teatro Municipal.
Tinha como seu principal assessor uma abobrinha de nome… Abobrinha, mesmo! Muito embaraçada, ela era mais para atrapalhar mesmo:
– Vamos lá, Abobrinha, me apresente! – disse Verdugo ao seu assessor, posicionando-se, como se estivera atrás das cortinas de um grande palco.
– Sabe o que é…? – falou Abobrinha.
– O quê? – perguntou já se irritando.
– Eu queria, mesmo, era fazer parte do show! – respondeu, meio sem graça.
– Como assim? O que você sabe fazer?
– Sei cantar, dançar, imitar… Olha só – E canta maravilhosamente bem.
– É… Não está tão mal, não… Mas, sabe o que é? O estrelo sou eu, meu amigo! Vai, me apresenta!
Faz, novamente, uma pose triunfal para entrar em cena. Mas o assessor o desarma, novamente:
– Como eu vou te apresentar se estarei lá atrás do público, gritando feito um louco, para animar a plateia?
– Não, seu abestado. Estamos ensaiando… É só um “faz de conta”, entendeu?
Olhando esta cena toda atrapalhada, entre o alface e a abobrinha, está Oleráceo, um caroço de açaí, bem intelectual, usando um “piscinê”. Ele se aproxima e fala:
– Olá, meus caros… Não pude deixar de notar que estão precisando de um profissional das artes cênicas. E eis que, “por acaso”, sou eu… Oleráceo, o fruto que não é fácil, seu diretor.
– Nossa! Fui descoberto! Um olheiro! Digo, um diretor famoso me descobriu! Pode mandar ver, seu Olerácio! Fale que eu me desfolhaço!
Nisso se aproxima Uvonilda, que estivera desde sempre observando Verdugo, o alface todo verdinho. Abobrinha, que já conhecia a uva passa, digo, que chega, resolve fazer as apresentações:
– Senhora Uvonilda – É interrompido por ela.
– Senhorita, por favor… E o meu nome é Uvete grapete, a que gosta de chiclete. Mas, quem é esse lindo rapaz todo verde-alface?
– Acho que a senhora, digo, senhorita já me viu no Show de Patinação, lá no congelador…
– Ah, lá no terraço!
Oleráceo aproveita e diz ao que veio, depois de limpar a garganta, pigarreando:
– Senhoras… Digo, senhoritas… E senhores, este é o famoso, grandioso, maravilhoso, estonteante Verdugo, o alface cantante!… Dançante!…
Verdugo, ao ouvir tanta ênfase em sua apresentação, se empolga e fica fazendo reverências a cada palavra citada, enquanto Uvonilda está prestes a desmaiar de emoção.
– Esperem! – interrompe a apresentação Olerácio.
– O que houve? Estava tão bom! – Diz Verdugo.
– Estava mesmo – Fala Uvonilda, apaixonada e colada no alface.
Olerácio está com o texto de Verdugo nas mãos:
– Olhando o seu texto, notei que precisa de um revisor… Percebi duas frases…
– Duas? Oras, duas frases erradas é aceitável!
– Duas frase corretas! O resto está erradíssimo! Um besteirol de marca maior!
– Como assim? – espanta-se Verdugo, pegando o texto das mão de Oleráceo. – Pera aí… Esse não é o meu texto original!
– Como assim, não é o texto original?
– ABOBRINHA! – Grita para o assessor!
Uvonilda se assusta e cai. Todos a acodem! Ela vai se recobrando:
– Ai, eu desmaiei… Preciso de uma respiração boca a boca!
– Isso eu sei fazer! – Diz Oleráceo.
– Mas eu sinto que preciso que seja de alguém bem verde, entendeu? – Pisca para o caroço de açaí.
– Seu Verdugo, ela precisa de uma respiração boca a boca…
– Tudo bem… Para que servem os amigos?
– Yes! – Exalta-se Uvonilda!
– Abobrinha, vai ali e lasca uma respiração na boca da dona Uvete… – solicita ao assessor.
– Ei! Sai pra lá que eu já tô boa!
– Tem certeza, Uvetezinha? – Pergunta Oleráceo.
– Claro que tenho! Tá ficando louco?
– Então já que ela está boa, mas nem tão boa assim… Vamos ao que interessa… Abobrinha, cadê os meus originais?
– Estão ali, vou pegar… É que fiz uma revisãozinha, sabe?
– É como eu sempre digo: dente por dente, alho por alho!
– Ai, que fome, que fome! Alguém tem um pedacinho de churrasco por aí? – diz Uvonilda.
– Churrasco!?… Mas, a senhora não é herbívora?
– Era, era… Do verbo erário! Me deem um pedaço de carne, por favor…
– Carne não tem, mas ali tem um pedaço de queijo! É de origem animal! – Diz o Olerácio.
– Queijo?!… Não força, vai… Minha parreira era em uma plantação de queijo… Enjoo só de ouvir a palavra!
– Não entendi nada, mas tá bom – diz Olerácio.
– E peixe, o que acha? – Fala a Abobrinha.
– Eu te mato se repetir! – Ela frisa com um olhar estranho.
– E o meu show? – Questiona Verdugo.
– Se for Show colate, eu aprecio… E muito! – Diz a uva.
– Tá aqui, ó – Chega a Abobrinha, trazendo os textos originais e os entregando ao Alface.
Pega os textos e os rasga, para espanto geral:
– Querem saber, já faço parte de um grande espetáculo… o espetáculo da vida! Onde todos são importantes e temos papéis de destaque… Embora tenhamos que ser falsos às vezes, porque a coisa toda é falsa, de certa forma, como um jogo. Mas você espera que quando for sincero com alguém, essa pessoa pare com as reações plásticas e seja sincera com você. Só que todos estão jogando o jogo. Então, ou você entra para o jogo ou cai fora do cassino. Só que o cassino é o mundo e você não tem como cair fora do mundo, a não ser morrendo… E ninguém quer morrer!
Moral: Extraia o melhor de você e apresente-se ao mundo!
Baseado na peça “A uva viúva e o alface difícil”, de Joni Bigoo e Hed Waldo – https://www.recantodasletras.com.br/roteiros-de-teatro-infantojuvenil/2766310
Bela história, parabéns!
Muito legal, Joni. Quero ver a peça agora.
Preparando elenco para monta-la!
Preparando um elenco para monta-la!