poço do casarão Parque Municipal de Nova Iguaçu

A um passo da janela do céu

Naquele dia eu queria fazer alguma coisa que fosse bem diferente e que nunca havia feito. Não ia ter aula, mamãe saiu para o trabalho e eu ia ficar sozinho em casa.

Por trás da minha casa tem uma trilha que leva até o Parque Municipal de Nova Iguaçu e eu ainda não conhecia. Resolvi que essa seria uma aventura e tanto. Marquinho, Julinha e Ney toparam de pronto quando liguei para convidá-los. Levamos água e biscoito. Levei um susto quando vi que o Julinha levava um facão na mochila:
– Pra que isso, Julinha?
– Pra gente se defender, ué!
– Esconde, senão a gente não vai conseguir entrar!

Olhamos uns para os outros e seguimos em frente.

A primeira subida do caminho foi tranquila, até chegarmos à parte mais íngreme. Achamos que caminhando em ziguezague seria mais fácil. Assim fizemos até chegarmos ao Boteco do Samuca, que fica no topo. Tomamos uma chuveirada no chuveiro improvisado, que eu acho ser proposital, e o dono do bar disponibiliza para as pessoas pararem, descansarem e consumirem alguma coisa. Bebemos uma Coca-Cola e seguimos adiante:
– Contam que depois do Bar do Samuca a gente consegue ver o Cristo Redentor lá do Rio de Janeiro.
– Dá pra ver nada, Rafa! – Disse o incrédulo Marquinho.
– Dá sim! Minha mãe falou que dá pra ver, sim! – Falei, subindo em uma pedra e esticando meu pescoço o mais que podia.
– Estou vendo! Olhem  lá! – Confirmei apontando o dedo na direção do Cristo.
– Cadê? Mostra! – Animou-se o até então o desanimado Ney.

Todos nós ficamos muito felizes por conseguir ver o Cristo Redentor de tão longe.

A parte seguinte do percurso foi menos cansativa: uma parte quase plana e depois uma descida que termina na Rua Avenida Brasil, a estrada que leva até o Parque. A trilha é cercada por muitas árvores, jaqueiras, pés de maracujá, goiabeiras, jambeiros e algumas poucas casas. O caminho é de terra com sulcos, talvez produzidos pela chuva. De vez em quando ouvimos os sons de animais como aves e micos. A estrada principal é mais larga, sem calçamento e carros circulam por ela.

Quando chegamos ao portão do Parque tivemos que nos identificar e torcemos para o facão não ser descoberto.  E não foi! Julinha tinha enrolado numa toalha e escondido no fundo da mochila. Fico pensando o porquê de levar um facão. Mas tudo bem. Passando da portaria a gente logo vê a represa. Eu, Julinha e Marquinho corremos para vê-la de perto e tirar fotos. Menos o Ney:
– Vem, Ney!
Não vou, não!
Por quê?
– 
Dizem que já morreu gente aí e nunca mais encontraram.
Isso é história, Ney! Vem!

Voltamos correndo para dar força e levar o Ney, que venceu o medo e se divertiu, desfilou na “passarela” e tirou fotos com a gente. 

Depois da represa fomos visitar a antiga pedreira, passamos por várias piscinas naturais, até chegarmos ao Poço das Cobras. De novo, Ney ficou com medo. Dessa vez nós o deixamos e fomos, os três, ver o pessoal que mergulhava, pulando das pedras, lá do alto. E, é claro, nós mergulhamos também! Só depois vimos a placa dizendo que era proibido mergulhar naquele local.

Seguindo nosso passeio, demos num casarão quase em ruínas. Lá morava um velhinho que não enxergava e cobrava dois reais para as pessoas passarem e chegar à piscina do Véu da Noiva. A gente não tinha mais dinheiro. Então passamos por debaixo da ponte, entre as pedras e chegamos ao nosso destino final.

Resolvemos que não iríamos até a Janela do Céu porque era muito alta a subida. Queríamos ficar ali mesmo porque o lugar era lindo, a água fresquinha e já estávamos satisfeitos. A Janela do Céu ficaria para outro dia. Passamos o resto do dia nos divertindo muito.

Foi uma aventura e tanto! Valeu à pena a bronca que levei de minha mãe depois que contei pra ela. Porém, nunca mais esquecerei esse dia!