O que é e, mais importante, para que serve um conto? Os contos contemporâneos servem, em última análise, para, com ludicidade, passar ensinamentos importantes à tribo. Assim é desde quando nos agrupávamos nas cavernas. Este é um conto que pretende narrar a existência de uma curiosa etnia indígena brasileira: os kadiuwéus. Este humilde narrador espera que a tribo aprecie.
A grande maioria dos povos pré-cabralinos estava em estado de “idade-da-pedra” quando da chegada dos europeus no Século XV. Mas havia um povo estranho a esses aborígenes primitivos: os kadiuwéus. A bem da verdade, sabe-se muito pouco sobre os primeiros kadiwéus encontrados pelos brancos. Ao contrário das outras etnias, os kadiwéus eram muito altos, com estatura mediana entre 1,80m e 1,90m, mas há relatos de indivíduos medindo mais de dois metros de altura. Possuíam um sistema de escrita que desapareceu com o tempo e também dominavam a fundição de metais.
Sua pele era mais clara que a das outras etnias americanas, tinham cabelo liso castanho claro, nariz afilado e muitos indivíduos com olhos claros, com variações do amarelo-mel ao verde. Fabricavam lanças e flechas com pontas de metal em forma de parafuso o que, associado à arrumação em forma cônica das penas na extremidade anterior do petardo, resultava, após o lançamento, que a flecha girava rapidamente, provocando uma penetração muito mais profunda no que atingisse, tendo sido observados troncos de árvore que foram totalmente atravessados por essas flechas-parafuso. Também não usavam arcos; usavam um lançador chamado “atlatl”, cuja grande vantagem é o rápido recarregamento. Em função de todas estas particularidades, um indivíduo reconhecia outro de sua etnia mesmo que nunca tivessem se encontrado. Com efeito, havia inúmeras tribos kadiuwéus, das regiões onde hoje é o norte da Argentina até o sertão do Piauí.
Quando os espanhóis chegaram à América, travaram guerra contra diversas civilizações. Na América do Sul enfrentaram os Incas, que derrotaram completamente em 1572.
Após derrotarem os incas, os espanhóis seguiram entrando no continente, dizimando tribos inteiras, saqueando, escravizando… até encontrarem os kadiuwéus, na região do norte de onde hoje está o Paraguai.
Os kadiuwéus eram nômades e, embora praticassem um pouco de agricultura e pecuária, vivam predominantemente de saquear outras aldeias. Por isso, receberam dos inimigos a alcunha de “guaicuru”, que significava pessoa sem caráter, vilão. Historicamente os kadiuwéus são também chamados de guaicurus.
Quando os espanhóis chegaram à primeira aldeia kadiuwéu, os índios se assustaram com os cavalos. O homem montado no cavalo passava a impressão de um demônio. Mas os kadiuwéus recuperaram-se rápido do susto. Incendiaram todas as tendas para cegar o inimigo com fumaça, permitiram primeiro a saída das mulheres e crianças e depois se reagruparam às margens de um rio próximo, por onde os espanhóis deveriam passar em busca de água. Após a emboscada, apenas um espanhol foi poupado, para que retornasse aos seus e contasse sobre a ferocidade dos kadiuwéus. A partir dessa batalha, os guerreiros aprenderam a lutar sobre o cavalo, em uma parceria homem-animal que não possui precedentes em toda a história humana.
Os kadiuwéus desenvolveram uma técnica de cavalgar o cavalo pelo lado e não montados no dorso. Esta posição estranha permite ao cavalo desenvolver uma velocidade muito maior do que aquela com alguém montado em suas costas. Outra vantagem é que o cavaleiro ficava completamente invisível durante o ataque, dando a impressão que o cavalo estava sozinho. Preso por correias à ilharga, o cavaleiro ficava com uma das mãos livre para disparar o atlatl com suas flechas mortais em forma de parafuso, que penetravam facilmente o peitoral de aço da armadura dos espanhóis.
Após quase 300 anos de tentativas frustradas e, reconhecendo a impossibilidade de derrotá-los, a Coroa Portuguesa propôs um acordo de paz com os kadiuwéus em 1791.
Os guerreiros kadiuwéus fizeram parte do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai… e prosseguiram não sendo jamais derrotados em nenhuma batalha.
Esse conto é uma bela história de lutas muito bem contada por esse grande contista e amigo. 👏👏👏🎂
Que beleza de conto histórico. Parabéns, camarada.
Muito obrigado, amigo.
Muito obrigado, amigo.