Apresentava-se como atriz e sua especialidade era dubladora. Tinha a voz meio esganiçada e, justamente por isso, não conseguia muito trabalho. Mas na juventude, lá nos anos 80, ganhou um concurso e tornou-se garota-propaganda de uma marca de sardinhas famosa: A Sardinhas 88, que só Deus sabe o motivo desse nome.
Foi garota-propaganda das “Sardinhas 88” por muito tempo. Nada mais natural que tatuasse no peito, em letras garrafais, o número 88. Curvilínea, costumava ser fotografada nas principais praias do Brasil, de biquíni fio dental, exibindo sua tatuagem no seio direito. Cada vez que um jornal ou revista publicava uma foto sua, ganhava um abono da marca de sardinhas. Mas isso foi lá no final dos anos 80.
Recentemente, com sessenta anos, a tatuagem descera quase para a barriga, como uma vela em formato de número, derretida e disforme, mas ainda nítida: 88.
As dificuldades financeiras pareceram terem se encerrado com o convite para dublar um personagem de animação famoso em Israel: um marreco antropomórfico em “As Aventuras de Yudá, o Marreco”.
Salário de estrela do cinema, as primeiras dublagens foram feitas em um estúdio de São Paulo, mas a produtora preferiu levá-la para Tel Aviv. Divorciada, nada a prendia ao Brasil e mudou-se de mala e cuia.
A primeira coisa que aprendeu em Israel resumiu-se a ser preconceituosa. Lá, os árabes e os israelenses, embora com as mesmas feições, possuem uma diferença gritante que torna fácil a identificação de um árabe: a pronúncia do “vê”. Este fonema não existe na língua árabe e os trabalhadores mais humildes trocam-no pelo “bê”. Se o cidadão fala que mora em Tel Abib, é árabe.
Com o sucesso de Yudá, o Marreco, as coisas ficaram bem mais simples. Até arranjar um namorado que foi embora no instante em que viu a tatuagem.
A seguir veio a surra que levou em um bar quando, encorajada pela vodca e outras mulheres, tirou a blusa e ficou só de sutiã. Um rapaz tirou uma foto da tatuagem e acabou presa. O dinheiro que angariou por lá gastou todo com advogados. Foi sumariamente demitida e acabou voltando como “persona non grata” para o Brasil. O motivo? O numeral 88 é uma tatuagem nazista. “Agá” é a oitava letra do alfabeto e 88 significa HH (Heil Hitler) para os neonazistas. Depois que ficou sabendo disto, ficou se perguntando por que diabos o nome da marca de sardinhas é 88.
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