A revolta das bactérias

Bombou no Z 10! Leia no digital, estampado no rosto do periódico: “A revolta das bactérias”, porque a dor da gente sai no jornal!

A coisa começa com o assassinato do sábio que descobriu a cura contra a ignorância. No sepultamento, invisivelmente, as bactérias do corpo do cientista migram para os presentes pelo suor do defunto…

A liderança das bactérias mobiliza as amigas, invadem o intestino, dominam o organismo, programam o destino da raça humana; uma ameaça ao poder do Estado, caso de subversão… O DNA do gênio instalou-se no código genético das bactérias, a ignorância está com os dias contatos…

A patologia das minúsculas consiste na proliferação do pensamento crítico, uma febre alta de ler, calafrios de saber, delírios de amor ao próximo. O veículo de contaminação é a água.

O governo age, arranca as folhas dos livros, ameaça os professores, estabelece a lei da escola sem partido, persegue os escritores, cala o beijo, extermina o abraço.

As monstrinhas estão em toda parte, mais assustadoras que terror de filme americano, capazes de alterar o curso da história do planeta!

Respire fundo, relaxe, previna-se: veja televisão, assista ao BBB, queime livros; nem tudo se perdeu, ainda temos a proteção da mitologia da burrice.

Com o tempo, as autoridades aperfeiçoam a reação: caçam os direitos dos amantes, proíbem o carinho e o beijo de língua será punido com a cadeira elétrica. Adiante, acrescentam geosmina na água, remédio desenvolvido pelo Ministério da Saúde, com eficácia comprovada.

As bactérias, acuadas, exilam-se na Fiocruz… A repressão descobre, fecha a fundação, isola as criminosas, incinera as meliantes na fogueira.

A fumaça da cremação visita o mundo dos mortos, as bactérias mudam de religião, frequentam o kardecismo, prometem reencarnar em breve…